Caros Amigos,
Sinto dificuldade em arranjar as palavras apropriadas para vos descrever o desgosto que sinto com o fim das Comunidades sobre Moçambique no MSN, , tal como as conhecíamos nestes últimos sete anos.
Começaram por nos tirar as salas de conversação, onde a boa disposição e a alegria reinavam e a risota era tanta, que alguns diziam que tinha que ir a correr à casa de banho...
Depois, havia o companheirismo diário, com a troca de mensagens sobre os mais diversos assuntos: politícos, sociais, coisas simples e banais do dia a dia, os avisos sobre aniversários, nascimentos e passamentos, as "guerras" entre sexos e as futebolísticas também.
Contaram-se anedotas, escreveram-se contos e poemas e falamos sobre artes diversas, onde lá estava também o cinema.
Falou-se de culinária - da pesada e da doçaria - coisas de fazer crescer água na boca, mesmo a quem não o queria!
Construiram-se e trocaram-se lindos e belos postais, onde as meninas eram geniais e ensinavam os demais.
Era vê-las ao despique, na construção das suas lindas e belas casinhas ou dos seus lindos e bonitos cantinhos, como eufemisticamente designavam os seus espaços individuais(sítios), para deleite dos demais.
Uns davam-nos música, outros fotografias, outros ainda vídeos (começaram a haver excursões organizadas por agências de viagens!) e se estes, os vídeos, fossem sobre as diversas terras onde tínhamos vivido em Moçambique, era o delírio, era o êxtase supremo.
Era essa nostalgia, era essa saudade, tão nossas características, a pedir que as saciassem!
Havia arrelias e zangas (coisa pouca!) também, mas, na maioria dos casos, tudo dentro dos limites da moral, da ética, do respeito e do direito devidos à liberdade do próximo.
Falámos sobre o passado, pois claro, pois ele também faz parte da vida, pois não há ninguém sem passado, e que seria das biografias, tanto em uso no mundo literário ocidental, sem ele, o passado?!
Excepto em Portugal, onde o passado não é venerado e até é saloiamnente distorcido nos actuais manuais de história! A história é sempre feita por aqueles que ganharam a última revolução, depois vêm outros e, sem pudor, mundam-na a seu jeito! Em Portugal, mesmo morto, não se gosta muito de se falar ou ler sobre quem se distinguiu pelo seu saber, ou dedicou a vida à coisa pública, sacrificando por vezes a própria família.
Penso que em nós a inveja é endémica e não há nada a fazer. Não gostamos de fazer nada e, acima de tudo, detestamos quem faça obra. Já li, por aí, que um general romano ao dar informações para Roma sobre o povo que vivia nesta região, disse: "Estranho povo este que não se governa nem se deixa governar!". Ainda hoje é assim!
José Gil, filósofo de renome internacional, nascido em Moçambique, analisa bem esta raça e os seus medos, na sua obra: Portugal, Hoje: O Medo de Existir, Relógio d'Água, Lisboa, Novembro de 2004.
Voltando ao cerne do artigo, vão daqui a dias acabar as Comunidades Moçambicanas no MSN, que nos ofereceu, em troca, essa coisa sem graça que é o Multiply, que não é mais que uma rede infindável de blogs pessoais, a que eles chamam sítios, sem o mínimo de espírito colectivo, embora queiram passar essa mensagem, e onde aquele espírito solidário e fraterno que havia nas comunidades se perdeu.
Conheço dezenas de amigos nas comunidades moçambicanas e não posso aqui mencionar todos os seus nomes, mas permitam-me que mencione, apenas, os nomes daqueles que criaram essas Comunidades que tantas horas de distracção, prazer e alegria nos deram, e ainda os de alguns que contribuiram para o brilho dessas comunidades com a qualidade dos seus artigos: José de Vasconcelos, Celestino Gonçalves, Magno Antunes, Ricky, Jaime Luís Gabão, José Maria Mesquitela, Jorge Cortez, Reinaldo Sá, Aristides, Zé e Graça Espírito Santo, Maria Luísa Hingá, Jorge Soares, Isabel Filipe, Isabel Antunes, Rogério Carreira, Mizé Araújo,Victor Passos, Luís Bulha, António Moura, João Abreu, Valdemar Jacinto, Céuzita Resende, São Percheiro, Ilídio Costa, João Antas, Carlos Gonçalves(falecido), Fernando Ferreira, Lenucha, Zé Paulo Gouvêa Lemos e Rui Silva.
Finalmente, tive com dois ou três elementos destas comunidades pontos de vista divergentes e uma ou outra discussão mais enérgica, mas isso em nada altera a consideração que tenho por todos, pois sempre respeitei o direito à diferença e, a liberdade de expressão, é a mais sagrada.
A todos o meu muito obrigado e adeus!
Com amizade e um abraço fraterno,
Manuel Palhares
Odivelas, 15 de Fevereiro de 2009.