Beira Meu Amor

A Beira foi o grande amor da minha vida. Recebeu-me com seis anos, em Novembro de 1950 e deixei-a, com a alma em desespero e o coração a sangrar, em 5 de Agosto de 1974. Pelo meio ficaram 24 anos de felicidade. Tive a sorte de estar no lugar certo, na época certa. Fui muito feliz em Moçambique e não me lembro de um dia menos bom. Aos meus pais, irmão, outros familiares, amigos e, principalmente, ao Povo moçambicano, aqui deixo o meu muito obrigado. Manuel Palhares

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sábado, fevereiro 14, 2009

Anatomia da saudade ou uma forma de dizer adeus!

Caros Amigos,

Sinto dificuldade em arranjar as palavras apropriadas para vos descrever o desgosto que sinto com o fim das Comunidades sobre Moçambique no MSN, , tal como as conhecíamos nestes últimos sete anos.

Começaram por nos tirar as salas de conversação, onde a boa disposição e a alegria reinavam e a risota era tanta, que alguns diziam que tinha que ir a correr à casa de banho...

Depois, havia o companheirismo diário, com a troca de mensagens sobre os mais diversos assuntos: politícos, sociais, coisas simples e banais do dia a dia, os avisos sobre aniversários, nascimentos e passamentos, as "guerras" entre sexos e as futebolísticas também.

Contaram-se anedotas, escreveram-se contos e poemas e falamos sobre artes diversas, onde lá estava também o cinema.

Falou-se de culinária - da pesada e da doçaria - coisas de fazer crescer água na boca, mesmo a quem não o queria!

Construiram-se e trocaram-se lindos e belos postais, onde as meninas eram geniais e ensinavam os demais.

Era vê-las ao despique, na construção das suas lindas e belas casinhas ou dos seus lindos e bonitos cantinhos, como eufemisticamente designavam os seus espaços individuais(sítios), para deleite dos demais.

Uns davam-nos música, outros fotografias, outros ainda vídeos (começaram a haver excursões organizadas por agências de viagens!) e se estes, os vídeos, fossem sobre as diversas terras onde tínhamos vivido em Moçambique, era o delírio, era o êxtase supremo.

Era essa nostalgia, era essa saudade, tão nossas características, a pedir que as saciassem!

Havia arrelias e zangas (coisa pouca!) também, mas, na maioria dos casos, tudo dentro dos limites da moral, da ética, do respeito e do direito devidos à liberdade do próximo.

Falámos sobre o passado, pois claro, pois ele também faz parte da vida, pois não há ninguém sem passado, e que seria das biografias, tanto em uso no mundo literário ocidental, sem ele, o passado?!

Excepto em Portugal, onde o passado não é venerado e até é saloiamnente distorcido nos actuais manuais de história! A história é sempre feita por aqueles que ganharam a última revolução, depois vêm outros e, sem pudor, mundam-na a seu jeito! Em Portugal, mesmo morto, não se gosta muito de se falar ou ler sobre quem se distinguiu pelo seu saber, ou dedicou a vida à coisa pública, sacrificando por vezes a própria família.

Penso que em nós a inveja é endémica e não há nada a fazer. Não gostamos de fazer nada e, acima de tudo, detestamos quem faça obra. Já li, por aí, que um general romano ao dar informações para Roma sobre o povo que vivia nesta região, disse: "Estranho povo este que não se governa nem se deixa governar!". Ainda hoje é assim!

José Gil, filósofo de renome internacional, nascido em Moçambique, analisa bem esta raça e os seus medos, na sua obra: Portugal, Hoje: O Medo de Existir, Relógio d'Água, Lisboa, Novembro de 2004.

Voltando ao cerne do artigo, vão daqui a dias acabar as Comunidades Moçambicanas no MSN, que nos ofereceu, em troca, essa coisa sem graça que é o Multiply, que não é mais que uma rede infindável de blogs pessoais, a que eles chamam sítios, sem o mínimo de espírito colectivo, embora queiram passar essa mensagem, e onde aquele espírito solidário e fraterno que havia nas comunidades se perdeu.

Conheço dezenas de amigos nas comunidades moçambicanas e não posso aqui mencionar todos os seus nomes, mas permitam-me que mencione, apenas, os nomes daqueles que criaram essas Comunidades que tantas horas de distracção, prazer e alegria nos deram, e ainda os de alguns que contribuiram para o brilho dessas comunidades com a qualidade dos seus artigos: José de Vasconcelos, Celestino Gonçalves, Magno Antunes, Ricky, Jaime Luís Gabão, José Maria Mesquitela, Jorge Cortez, Reinaldo Sá, Aristides, Zé e Graça Espírito Santo, Maria Luísa Hingá, Jorge Soares, Isabel Filipe, Isabel Antunes, Rogério Carreira, Mizé Araújo,Victor Passos, Luís Bulha, António Moura, João Abreu, Valdemar Jacinto, Céuzita Resende, São Percheiro, Ilídio Costa, João Antas, Carlos Gonçalves(falecido), Fernando Ferreira, Lenucha, Zé Paulo Gouvêa Lemos e Rui Silva.

Finalmente, tive com dois ou três elementos destas comunidades pontos de vista divergentes e uma ou outra discussão mais enérgica, mas isso em nada altera a consideração que tenho por todos, pois sempre respeitei o direito à diferença e, a liberdade de expressão, é a mais sagrada.

A todos o meu muito obrigado e adeus!
Com amizade e um abraço fraterno,

Manuel Palhares

Odivelas, 15 de Fevereiro de 2009.

8 Comments:

Blogger Unknown said...

Amigo Manuel
Também eu fiquei muito triste por nos tirarem o MSN, pois como tu sabes quando me inscrevi lá, mal sabia trabalhar com o PC e já por lá andavam todos aqueles que deram vida ao grupo da Beira. Tu foste o meu primeiro amiguinho virtual por quem tenho muita estima, amizade e consideração. Não haja duvida que o Multiply também não agrada a muitas das pessoas que por aqui andam, e até nos cansarmos, como tu, vamos aqui passando um bocado do nosso tempo uma vez que ainda não nos deram nada melhor. Não quero que digas adeus, meu amigo, ao menos no teu blog peço-te que continues sempre a escrever, pois seria bem triste, e de certo não falo só por mim, deixar de termos entre nós o nosso querido Manuel Palhares.
Um beijinho com muito carinho e espero que me continues a mandar os teus bonitos e-mails
Já te respondi no multiply, mas como possivelmente vais lá pouco, resolvi deixar aqui o meu comentário, pois este é o lugar onde exprimes sempre os teus sentimentos.
Teresa

domingo, fevereiro 15, 2009 7:47:00 da tarde  
Blogger Manuel Palhares said...

Teresinha,

Vou usar aqui, para te responder, o texto com que te respondi no Multiply!

"Peço desculpa pela demora mas parei pouco em casa durante estes últimos dias e atrasei o correio.
Eu também nunca mais esqueci o teu primeiro comentário num carta que escrevi à nossa Beira, em Junho de 2007, por altura do seu centenário. E desde aí considero que arranjei mais uma amiguinha a valer...
Quanto ao dizer adeus em definitivo ao Multiply, embora já o tivesse afirmado noutro texto, isso não o vou fazer, porque seria uma prova de enorme ingratidão para com tantos amigos de quem ficava privado de notícias e que tantas manifestações de amizade me têm dado. Porém, não vou perder muito tempo com isto, e vou utilizá-lo também para anunciar artigos/crónicas no Beira Meu Amor, para quem estiver interessado e assim não perdemos o contacto uns com os outros.
Minha sempre doce, suave e amável amiguinha, fico-te sempre reconhecido pelo modo como abordas os assuntos: és uma menina como só havia na nossa Beira!
A continuação de uma semana cheia de paz e saúde para ti e para os teus.
Um beijinho cheio de carinho, do amigo sempre ao teu dispor,
MPalhares"

Também aqui me despeço, com um beijinho carinhoso,

Manuel Palhares

quarta-feira, fevereiro 18, 2009 6:47:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Mais uma etapa finda!
Um triste adeus de saudade, com alegrias e mágoas á mistura.
Continuo revoltada a pensar se não poderia ser de outra maneira..mas parece que sou uma das poucas que assim pensam.
Desde o inicio que nunca gostei nem atinei com o sistema. Tenho o meu sitio, a que pouco ligo, porque me foi imposto.
Apesar de alguma desilusão, não com o sistema do MSN, mas com algumas pessoas, vou ter imensas saudades, sim.
E vou findar, a minha participação pelos grupos. Agora, nada me dizem, até porque as pessoas se afastam cada vez mais das comunidades, para andarem de blog em blog, a maioria sem nada de substancial, e ate já afastados do intuito inicial:conviver como moçambicanos, para matar saudades e relembrar episodios.
Um beijinho (nem de propósito, toca a funeral, o sino da igreja da minha zona, neste momento preciso.)
SAO ALVES

quinta-feira, fevereiro 19, 2009 3:46:00 da tarde  
Blogger Manuel Palhares said...

Olá Bianita, Princesa do Lima,

Boa tarde!
Primeiro que tudo, os meus parabéns por este delicioso pedaço de prosa que está muito bem escrito.
Em seguida é efectivamente como dizes: promovem-se blogs e não os grupos das comunidades (há blogs com o dobro das entradas dos grupos de onde as pessoas são originais!), numa vã feira de vaidades, porque não se dá previlégio ao conteúdo, mas à quantidade de colagens, muitas delas disparatadas e infantis!
E, finalmente, o convívio entre pessoas que se sentiam unidas por serem ou terem vivido em Moçambique, é "chão que já deu uvas". O que era de esperar aliás, passados que são trinta e cinco anos sobre o fim do Império Colonial Português.
Repara que já há uma geração (de cá e de lá),que já vai nos trinta e cinco anos, que não tem nada a ver com o contexto colonial e que não consegue entender a nossa atitude e saudosismo, porque o fim do colonialismo era natural e inevitável.
A nós, os que amávamos a terra, mas que não tivemos a coragem de lá ter ficado, ou de para lá ter voltado - como alguns poucos fizeram -, resta-nos padecer até ao fim dos nossos dias como ciganos apátridas. Disse!
Um beijinho Bianita,

Manuel Palhares

quinta-feira, fevereiro 19, 2009 4:48:00 da tarde  
Blogger Zé Paulo Gouvêa Lemos said...

Meu prezado amigo Manuel,

Não gosto de despedidas e nem mesmo pretendo-me despedir de uma pessoa com quem entendo manter contacto, mesmo que não tão frequente quanto gostaríamos e que o mundo moderno acaba nos criando algumas limitações, ainda que nos forneça "internet's".
Sobre os grupos de MSN, não tenho assim a mesma sensação de perda. Talvez porque não me prenda muito a "cadeiras", e mais a momentos, sentimentos, que ficam mais dentro de mim, sejam eles bons ou maus. Não ficam eles nos posts ou nas mensagens escritas e sim no momento que as li ou as escrevi.
Sobre o momento de pico das salas de conversação, foi de fato animado, mas quando acabaram com elas, não mais havia a mesma frequência, nem de quantidade de usuários, nem de acesso. Já não havia o mesmo ritmo. Da mesma forma a participação nos grupos foi diminuindo. Não vou nem mesmo qualificar a participação no seu conteúdo, se as mensagens eram com mais ou menos "substância", como diria o outro... Mas diminuiu em um todo. O que se pode ainda qualificar, mesmo que de certa forma subjetiva, foi o comportamento ético de algumas pessoas neste nosso meio, que mancharam de forma pesada a convivência entre seres pensantes.
Creio que a mudança do MSN para o Multiply só foi a gota d'água para derramar o balde de saturação que estava cheio.
Muitos de nós não estavamos sabendo lidar com este meio de interagir. Muitos deixam-se envolver pela dinamica da internet e não conseguem travar os momentos de lazer e da vida pessoal, extra Grupos de MSN, e acabam por misturar sentimentos do seu dia a dia, por vezes com questões do passado, outras por pura maldade, usando questões bisonhas. Via-se isso em todas as comunidades. Menos em umas, mais em outras. Mas, já no MSN viamos o afastamento do processo de união que conhecemos quando começou-se a criar o que alguns classificaram de comunidades, o que eu sempre preferi chamar de praças ou jardins.
Há que criar outras praças, novos jardins. Não creio que o problema maior esteja nas ferramentas, MSN, Multiply, ou outras. O problema continua ainda na dificuldade de se saber lidar com as diferenças, de se saber ter a nossa casa e ainda assim ter o prazer de visitar e/ou receber um amigo e se ter uma praça para nos encontrarmos todos para ver o Pôr do Sol e o Nascer do Sol.
Manel, recebe um abraço do teu amigo Luso-Moçambicano-brasileiro...não de despedida. De continuidade, de presença... em lugar qualquer.

Zé Paulo

PS: Desculpa o lençol !

sexta-feira, fevereiro 20, 2009 10:01:00 da tarde  
Blogger Manuel Palhares said...

Meu caro amigo Zé Paulo,

Qual lençol?!
Nada disso!
As tuas reflexões têm sempre um misto de muita coisa: são filosóficas, são profundas, são cirurgicamente analíticas, são polémicas, são irónicas, são, por vezes, arreliadoras, mas são, sobretudo, o resultado de um ser humano que está atento ao que o rodeia, que não vende as suas convicções e nem se dobra à razão da força, preferindo a força da razão.
O que é preciso é que também saibas reconhecer, perante as evidências das provas, de que nem sempre terás razão. E, se assim for, estás perto da perfeição, dos privilegiados com uma inteligência próxima da dos homens sábios...
E, claro, que não é por acabarem todos os MSNs deste mundo que a Terra deixará de rodar no seu eixo e em redor do Sol.
O que é preciso, meu caro amigo, é que nos preocupemos em descobrir como criar no ser humano vontade para acabar com a fome na Terra.
Olha é sempre um prazer ler-te!
Tu ainda sabes que és luso-moçambicano-brasileiro e deves sentir-te feliz por teres descoberto a tua identidade, porque eu considero-me apátrida e é isso o que mais me faz sofrer.
Um bom fim-de-semana meu amigo e até sempre, com um abraço amigo do,

Manuel Palhares

sábado, fevereiro 21, 2009 6:26:00 da tarde  
Blogger Zé Paulo Gouvêa Lemos said...

Manuel,
Quando crescer quero ser como tu.
Um grande e forte abraço.
Zé Paulo

sábado, fevereiro 21, 2009 11:34:00 da tarde  
Blogger Manuel Palhares said...

Ah! Ah! Ah!

Assim não vale Zé Paulo!

Um Gouvêa Lemos, não foge a dar uma resposta, aproveitando-se do carnaval e de o seu receptor já ser
velhinho...
Um bom domingo e um bom caranaval.
Um abraço amigo do,

ManuelPalhares

domingo, fevereiro 22, 2009 12:36:00 da manhã  

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