Beira Meu Amor

A Beira foi o grande amor da minha vida. Recebeu-me com seis anos, em Novembro de 1950 e deixei-a, com a alma em desespero e o coração a sangrar, em 5 de Agosto de 1974. Pelo meio ficaram 24 anos de felicidade. Tive a sorte de estar no lugar certo, na época certa. Fui muito feliz em Moçambique e não me lembro de um dia menos bom. Aos meus pais, irmão, outros familiares, amigos e, principalmente, ao Povo moçambicano, aqui deixo o meu muito obrigado. Manuel Palhares

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Localização: Odivelas, Lisboa, Portugal

sexta-feira, junho 15, 2007

Na Beira, no século passado


Chegou a casa onde ele, o irmão mais novo e os pais moravam, cansado e suado, pois o dia tinha estado quente. Viviam no 4º andar do Prédio Vumba - naquela época o edifício mais alto da cidade - mais conhecido pelo prédio do notário ou da TAP, o qual ficava situado na Rua Governador Augusto Castilho, em frente à muralha, junto ao Governo Civil da cidade da Beira e ao parque de estacionamento que aí havia.
Os pais não estavam, porque o pai tinha ido em serviço a Nampula e levara a esposa com ele. Foi tomar um chuveiro e, ao sair do banho, ainda de toalha à cintura, foi até à sala e colocou no gira-discos o último "long play" dos Beatles que tinha comprado nessa mesma tarde, na casa de artigos musicais situada ao lado da Companhia das Águas da Beira, ali mesmo ao pé do Café Scala. Cantarolando, ao desafio com os rapazes de Liverpool, foi-se vestir, sentindo-se satisfeito com a vida.
Pouco depois foi ter com um amigo que vivia na messe dos oficias da Força Aérea, no Prédio Empório, para irem os dois, no carro desse amigo, até ao Macúti, ter com duas lindas irmãs, com quem namoravam. A ida até ao Macúti e o tempo que lá passaram foi, como sempre, muito agradável!
De regresso a casa, preparou um whisky com água gaseificada e umas pedras de gelo e, bebericando a bebida, foi até à varanda da sala, que dava para o rio, apreciar aquela bela paisagem que era ver as luzes dos navios fundeados no estuário do rio Pungue, à espera de vez para atracarem no porto da Beira, ou descarregando ali mesmo, para grandes batelões, as mercadorias vindas da Índia, de Macau, ou de Portugal. Jantou com o irmão a refeição que o Benjamim, o empregado dos pais, lhes tinha preparado, disse ao irmão para não se deitar tarde porque no dia seguinte tinha aulas e saiu.
Ao chegar cá abaixo, à rua, verificou que se estava a levantar uma ligeira cacimba, mas inspirou com agrado o ar da noite e virou em direcção ao Largo Dr. Araújo Lacerda, onde se encontrava o edifício do BNU. Aí, hesitou entre ir pela rua do Cinema Olímpia, ou antes pelo Largo Luís de Camões e passar pelo Cinema Palácio, o qual se situava nas trazeiras do Olímpia, de frente para o referido largo. Optou pela segunda hipótese e, quando lá chegou, entrou no Restaurante Moçambicano, dirigiu-se ao balcão e pediu um café. Tomado o café, atravessou para o lado do Cinema Palácio e deitou um olhar para as montras da casa de mobílias que havia no rés-do-chão do edifício onde funcionava o cinema. O Cinema Palácio funcionava num primeiro e segundo andares, pois também tinha balcão e uma espécie de camarotes laterais. Era uma linda e original sala de espectáculos! Deixadas para trás as referidas montras, atravessou a rua em diagonal e caminhou em direcção ao Cinema Nacional. Quando lá chegou, comprou o bilhete para a sessão da noite e, antes de entrar, deitou uma olhadela para o outro lado da rua e viu, através dos vidros das janelas do Restaurante Piquenique, o seu amigo João ajudando o pai.
Acabada a sessão de cinema, por volta das onze da noite, atravessou a rua e caminhou em direcção às traseiras do Tribunal, passou junto às instalações da Manica Trading - situadas no lindo Edifício Infante - e atravessou a Ponte Metálica. Chegado ao Largo do Caminho de Ferro, mais uma vez se admirou com o lindo e feérico edifício da Estacão, obra conjunta de três distintos arquitectos, a quem a Beira ficou a dever vários dos seus mais lindos prédios. Tinha orientado os seus passos para ali, pois o seu objectivo era ir tomar uma cerveja Manica ao bar que funcionava no piso térreo do Moulin Rouge: babel de todas as línguas, local de todos os cios, sítio de ébrias lutas.
Olhou para o relógio, era quase meia noite e era hora de regressar a casa. Foi, junto ao Chiveve, pelo grande passeio que acompanhava a sua margem esquerda, desde a ponte metálica até ao Largo Caldas Xavier.


Chegado a casa, deparou com o rádio a tocar e o irmão a dormir no sofá. Amparou-o até à cama e deitou-o. Depois, ainda foi até a varanda fumar um cigarro e imaginou-se a partir num dos muitos navios que dali via fundeados, para parte incerta, à aventura, mas sabendo que sempre regressaria à sua Beira.

Odivelas, 16 de Junho de 2007.

Manuel Palhares

segunda-feira, junho 11, 2007

Carta à Cidade da Beira



Minha querida,

Que saudades eu tenho de ti!
Quando passeio por ti, através do Google Earth, e faço-o quase todos os dias, o meu coração sorri e chora ao mesmo tempo, tais são as saudades que sinto.
Deparei hoje com esta tua fotografia na internet, rodeada que estás de azul. Como cresceste nestes trinta e três anos!
Não têm tratado de ti como merecias, eu sei. Mas não faz mal, para mim continuas bonita e as feridas que apresentas, são próprias do teu crescimento.
Em breve farás cem anos, como cidade, e como eu gostava de aí estar, mas infelizmente não pode ser. Resta-me ir acompanhando as notícias que têm escrito sobre essa data e, avidamente, ver as fotografias publicadas por quem te visita.
Acredita que te amo muito, como penso que se deve amar a nossa terra mãe. Foi em ti que cresci, que aprendi, que amei, que me fiz homem, enfim.
Quando acabei os meus estudos, no teu Liceu, estive seis anos fora e, apesar de aí ir de férias, pelo menos uma vez por ano, quando regressava sentia sempre uma alegria enorme, um doce bem estar, uma paz indiscritível. Imagina pois, como me sinto, afastado que estou de ti há tanto tempo.
Num turbilhão, vêm-me à cabeça imagens tuas, de todos os teus recantos, onde fui tão feliz. Desde os tempos da Ponta Gea e do Jardim do Bacalhau, até aos mais recentes, passados ali, em frente ao 100 à Hora, numa zona de transição entre a Ponta Gea e o Aruângua, geralmente chamado de Baixa.
De que é que eu tenho saudades?
De tudo:
- de quando era menino e me fascinava com uma ida de machimbombo à Manga, até à passagem de nível, e de lá comer galinha à piri-piri, num restaurante que havia nesse local;
- de uma matiné no lindo cinema Rex ou no simpático Olímpia e dos cafés gelados que aí se podiam beber;
- das idas ao circo, primeiro no largo do Caminho de Ferro e mais tarde em frente ao Cinema S. Jorge;
- dos tempos da primária, nas "Maméres", na Eduardo Vilaça e na António Enes;
- dos tempos do Liceu, primeiro na Ponta Gea e depois naquela zona de transição entre o Esturro e Matacuane;
- dos professores, dos colegas e dos amigos que fiz enquanto aí estudei;
- dos tempos do escutismo e da Acção Católica;
- das idas a bordo dos navios que aportavam ao teu Porto e, mais tarde, até ao aeroporto, ver os aviões que chegavam de Portugal;
- das noites passadas no Pavilhão da Mocidade Portuguesa a assistir a eventos desportivos;
- das festas dos Santos Populares, primeiro no Beira Terrace e, depois, no pavilhão do Ferroviário da Beira;
- de todos os teus bairros, quando por eles passeava de bicicleta, e do cheiro do Chiveve;
- da Praça do Município, e dos incontornáveis cafés Capri e Riviera;
- dos espectáculos de boxe e de luta livre no pavilhão do SLB, ali em frente aos Bombeiros;
- dos bailes nas várias casas regionais portuguesas;
- dos treinos de basquetebol no campo do Desportivo da Beira, ali pertinho da Catedral;
- da Praça da Índia e do Veleiro, da marginal e do Oceana, do Grande Hotel e da sua piscina, e do ATCM;
- das tuas praias: do Inhangau, do Régulo Luís, do Macúti, e as da marginal - que iam do Farol até à Praia dos Pinheiros;
- das pessoas conhecidas e amigas, ou apenas daquelas que conhecia de vista e, principalmente, dos criados dos meus pais, que tanto os ajudaram na minha criação e na do meu irmão.
Aí, nesse estuário do Púngue, eu fui muito feliz e por isso te recordo com tanta saudade, reconhecido e grato.
Estou certo que, se me aperceber da minha morte, será para ti que irão os meus últimos pensamentos!
Adeus, adeus minha querida e saudosa terra, minha querida Beira.
Adeus Beira Meu Amor!

Odivelas, 11 de Junho de 2007.

Manuel Palhares

sábado, junho 09, 2007

Uma música do nosso tempo

Por Mary Hopkins:"Those Were The Days, My Friend"!

Lyrics


Once upon a time, there was a tavern
Where we used to raise a glass or two
Remember how we laughed away the hours,
Think of all the great things we would do

Those were the days, my friend
We thought they'd never end
We'd sing and dance forever and a day
We'd live the life we'd choose
We'd fight and never lose
For we were young and sure to have our way

Di di di di di di
Di di di di di di
Di di di di di di di di di di

Then, the busy years went rushing by us
We lost our starry notions on the way
If, by chance, I'd see you in the tavern,
We'd smile at one another and we'd say

Those were the days, my friend
We thought they'd never end
We'd sing and dance forever and a day
We'd live the life we'd choose
We'd fight and never lose
Those were the days, oh yes, those were the days

Di di di di di di
Di di di di di di
Di di di di di di di di di di

Just tonight, I stood before the tavern
Nothing seemed the way it used to be
In the glass, I saw a strange reflection
Was that lonely woman really me?

Those were the days, my friend
We thought they'd never end
We'd sing and dance forever and a day
We'd live the life we'd choose
We'd fight and never lose
Those were the days, oh yes, those were the days

Di di di di di di
Di di di di di di
Di di di di di di di di di di

Di di di di di di
Di di di di di di
Di di di di di di di di di di

Through the door, there came familiar laughter
I saw your face and heard you call my name
Oh, my friend, we're older but no wiser
For in our hearts, the dreams are still the same

Those were the days, my friend
We thought they'd never end
We'd sing and dance forever and a day
We'd live the life we'd choose
We'd fight and never lose
Those were the days, oh yes, those were the days

Di di di di di di
Di di di di di di
Di di di di di di di di di di

Di di di di di di
Di di di di di di
Di di di di di di di di di di

La la la la la la
La la la la la la
La la la la la la


Com amizade,

Manuel Palhares

Odivelas, 9 de Junho de 2007.

quarta-feira, junho 06, 2007

Fotografias da Beira


Caros amigos,

A Susana é uma jovem portuguesa que, com o marido, foi fazer uma experiência profissional a Moçambique, para a cidade da Beira, dando aí aulas no Colégio Português.
Estiveram lá de Setembro de 2006 a Fevereiro de 2007 e, como testemunho da sua passagem pela Beira, deixaram um blog onde se podem ver centenas de fotografias da nossa cidade.
Vale a pena ver, clicando nos vários meses que se encontram referidos por cima do relógio situado no canto inferior esquerdo!

AQUI!

Demora um pouco a abrir, mas compensa esperar.
Com amizade,


Odivelas, 6 de Junho de 2007.

Manuel Palhares

segunda-feira, junho 04, 2007

Vídeos da Cidade da Beira



Caros amigos,

Aqui vos deixo com o link para a Comunidade de Vila Pery, onde o amigo Luís Santos nos presentei-a com quatro vídeos da Cidade da Beira:

AQUI!



Com amizade,

Odivelas, 4 de Junho de 2007.

Manuel Palhares

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