Carta à Cidade da Beira
Minha querida,
Que saudades eu tenho de ti!
Quando passeio por ti, através do Google Earth, e faço-o quase todos os dias, o meu coração sorri e chora ao mesmo tempo, tais são as saudades que sinto.
Deparei hoje com esta tua fotografia na internet, rodeada que estás de azul. Como cresceste nestes trinta e três anos!
Não têm tratado de ti como merecias, eu sei. Mas não faz mal, para mim continuas bonita e as feridas que apresentas, são próprias do teu crescimento.
Em breve farás cem anos, como cidade, e como eu gostava de aí estar, mas infelizmente não pode ser. Resta-me ir acompanhando as notícias que têm escrito sobre essa data e, avidamente, ver as fotografias publicadas por quem te visita.
Acredita que te amo muito, como penso que se deve amar a nossa terra mãe. Foi em ti que cresci, que aprendi, que amei, que me fiz homem, enfim.
Quando acabei os meus estudos, no teu Liceu, estive seis anos fora e, apesar de aí ir de férias, pelo menos uma vez por ano, quando regressava sentia sempre uma alegria enorme, um doce bem estar, uma paz indiscritível. Imagina pois, como me sinto, afastado que estou de ti há tanto tempo.
Num turbilhão, vêm-me à cabeça imagens tuas, de todos os teus recantos, onde fui tão feliz. Desde os tempos da Ponta Gea e do Jardim do Bacalhau, até aos mais recentes, passados ali, em frente ao 100 à Hora, numa zona de transição entre a Ponta Gea e o Aruângua, geralmente chamado de Baixa.
De que é que eu tenho saudades?
De tudo:
- de quando era menino e me fascinava com uma ida de machimbombo à Manga, até à passagem de nível, e de lá comer galinha à piri-piri, num restaurante que havia nesse local;
- de uma matiné no lindo cinema Rex ou no simpático Olímpia e dos cafés gelados que aí se podiam beber;
- das idas ao circo, primeiro no largo do Caminho de Ferro e mais tarde em frente ao Cinema S. Jorge;
- dos tempos da primária, nas "Maméres", na Eduardo Vilaça e na António Enes;
- dos tempos do Liceu, primeiro na Ponta Gea e depois naquela zona de transição entre o Esturro e Matacuane;
- dos professores, dos colegas e dos amigos que fiz enquanto aí estudei;
- dos tempos do escutismo e da Acção Católica;
- das idas a bordo dos navios que aportavam ao teu Porto e, mais tarde, até ao aeroporto, ver os aviões que chegavam de Portugal;
- das noites passadas no Pavilhão da Mocidade Portuguesa a assistir a eventos desportivos;
- das festas dos Santos Populares, primeiro no Beira Terrace e, depois, no pavilhão do Ferroviário da Beira;
- de todos os teus bairros, quando por eles passeava de bicicleta, e do cheiro do Chiveve;
- da Praça do Município, e dos incontornáveis cafés Capri e Riviera;
- dos espectáculos de boxe e de luta livre no pavilhão do SLB, ali em frente aos Bombeiros;
- dos bailes nas várias casas regionais portuguesas;
- dos treinos de basquetebol no campo do Desportivo da Beira, ali pertinho da Catedral;
- da Praça da Índia e do Veleiro, da marginal e do Oceana, do Grande Hotel e da sua piscina, e do ATCM;
- das tuas praias: do Inhangau, do Régulo Luís, do Macúti, e as da marginal - que iam do Farol até à Praia dos Pinheiros;
- das pessoas conhecidas e amigas, ou apenas daquelas que conhecia de vista e, principalmente, dos criados dos meus pais, que tanto os ajudaram na minha criação e na do meu irmão.
Aí, nesse estuário do Púngue, eu fui muito feliz e por isso te recordo com tanta saudade, reconhecido e grato.
Estou certo que, se me aperceber da minha morte, será para ti que irão os meus últimos pensamentos!
Adeus, adeus minha querida e saudosa terra, minha querida Beira.
Adeus Beira Meu Amor!
Odivelas, 11 de Junho de 2007.
Manuel Palhares
21 Comments:
Ola Manel........
Ainda bem que o meu post foi o primeiro, faz-me parecer que é também uma homenagem á minha Beira.
Li as tuas saudades todas, quase percorri as ruas, os bairros, as praias, os arredores...deliciei-me com os sabores e cheiros das ruas dos monhés e dos chinas, o bazar, o chiveve.
O cheiro das ruas e das pessoas....as matinées e os milk-shakes.
Hei-de voltar, consoante os comentários, as saudades e a ocasião surja, mas só te quero dizer uma coisa meu amigo, MUITO OBRIGADA, apesar do coração apertado das saudades e não só.
Mesmo agora, feia, suja, estropiada, ferida no seu e nosso orgulho, È A MINHA BEIRA.
Beijinho muito grande.
Oi Palhares
Como j+a disse na Beira, ELA é sempre nossa e como diz tb a M da Conceição, mesmo feia, suja, estropiada, ferida no seu e nosso orgulho é sempre a NOSSA BEIRA
Beijinho e obrigada pelo lindo momento que foi ler-te e recordar^
MManuel
Minhas Amigas:
São,
Obrigado pela visita e pelas lindas e sentidas palavras que aqui nos deixas.
É, com dizes, a nossa querida e sempre amada terra, é a nossa querida Beira e isso ninguém nos pode tirar.
Um beijinho,
Manel
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Maria Manuel,
Uma das pessoas em quem pensei, ao escrever esta carta, foste tu. Não que me recorde de nos termos conhecido, mas porque nos cruzamos, entre outros sítios, no incontornável Jardim do Bacalhau, quando éramos pequenos.
Um beijinho e até sempre, enquanto os deuses quiserem,
Manuel Palhares
Bom dia Manel,
Depois de lêr a tua carta á Beira, não pude deixar de vir conversar contigo ao teu blog. Sabes, ao lêr tudo que dizes, fiquei amocionada, chorei e senti uma tristeza imensa. E sabes porquê? Porque tal como tu passeio muito no Google Earth, vou de minha casa ao Jardim do Bacalhau onde tantas vezes brinquei e quem sabe até contigo. Depois dou a volta p Oceana, Grande Hotel, e vou pela rua da Mexicana novamente para casa. Sabes Manel, aqui em minha casa dizem que sou saudosista!! Sou sim, e o m marido e filhos n o são, porque o m marido é de cá, esteve lá de 67 a 76 e os miúdos eram pequeninos e a Beira pouco lhes diz.Desculpa o desabafo mas é sempre bom teclar com pessoas que pensam como nós.
Um beijinho e obrigada, continua sempre.
Teresa
Teresa, minha boa amiga,
Como eu te percebo!
Desabafa à vontade as vezes que te apetecer, pois o blog é para isso também, ou seja, para nos apoiarmos uns aos outros.
A carta que escrevi é isso mesmo:um desabafo das imensas e dolorosas saudades que sinto da nossa querida Beira.
Um beijinho,
Manel
Fico bem contente por aqui podermos matar saudades em paz, harmonia e em sintonia. Sobretudo com civismo.
Coisa que os beirenses tinham e já vao perdendo.
Também andei pelo jardim do Bacalhau, ainda sinto o coração apertado!
Devo ser bem mais nova que as duas pessoas que escreveram aqui, mas nao importa, as saudades sao tao grandes!
A Teresa, ainda tem o marido para compartilhar as saudades, pois la esteve. Eu, nao. e os meus filhos, cá nascidos, que lhes interessa aquilo? Nem o espirito africano que consegui transmitir. Outra geração, outros pensares, outra cultura.
Mas tenho a certeza, se lá fossem, apesar dos mil e um defeitos que iam apontar, ficariam com o bichinho d áfrica e me entenderiam.
Beijão a todos.
P.S. Manel, eu nao fui passear. Estou doente e mto cansada.Só.
São,
Já tinha reparado que não andas muito bem de disposição e, o que é pior, de saúde. Tu trata-te, vai ao médico, porque sem saúde é que as coisas se tornam piores. Ainda és nova e terás pela frente ainda muitos e longos anos.
Quanto à costa oriental de África, só quem tomou banho no Índico é que percebe - os angolanos que me desculpem!
As tuas melhoras e um beijinho,
Manel
Olá Manel
Não posso deixar de te dizer o quanto mexeu comigo a tua "carta à cidade da Beira". Também tenho passado algumas horas no Google passeando por ela e com que saudade. Já passaram 28 anos que deixei a nossa querida Beira e sinto como se tivesse sido hoje a tristeza de me terem "arrancado" da terra que considero minha, da nossa terra. E lembrei de novo as brincadeiras, o liceu, o S. Jorge, sei lá .... tudo o que foi a nossa vida e aqueles com quem sempre lá vivi, família, amigos, etc.
Bem hajas por este conforto que nos vais dando de quando em vez. Um grande abraço do Ferreira (Gordo).
Olá Fernando, meu querido amigo,
Resta-nos a memória desses tempos muito felizes e, para matar as saudades que são muitos, vamo-nos encontrando, sempre que for possível, para recordarmos coisas da altura em que fomos meninos...
Um grande abraço meu amigão,
Manel
Como eu o compreendo... nasci em LM mas foi na Beira que passei os melhores anos da minha adolescência. Lembro-me de tudo o que lá passei o que não acontece com o resto da minha vida. Terá sido do Chiveve???
Obrigada pela sua linda homenagem.
Abraço da Marocas
Marocas,
Que bom vê-la, de novo, por aqui.
Pois é minha amiga, como diz a letra da canção que se ouve, quando se entra no blog:"Aqueles eram os dias..."! Agora se era por causa da água do Chiveve é que já duvido.Ah!Ah!Ah!
Era mais a água do Pungue, captada no Mafambisse, em frente à Açucareira.
Obrigado pelas suas amáveis palavras.
Um beijinho,
Manuel Palhares
Manuel
Obrigada pelas suas palavras e um beijinho Beirense
Alda,
Muito obrigado pela sua visita ao blog e pelas amáveis palavras que aqui deixou.
Apareça sempre!
Um beijinho,
Manuel
Meu caro: Nao tenho o prazer de o conhecer apesar de ter vivido e ter familia em odivelas. Joguei basket no SLB em 72/73/74 nos juvenis as minhas irmas tambem, bem como no ferroviario. Subscrevo inteiramente tudo o que escreveu e mando-lhe um grande abraco.
Jorge Santos
Meu caro Jorge,
Obrigado pela visita e pelas suas palavras.
A Beira será sempre o grande amor das nossas vidas.
Boas Festas e votos de que o novo lhe traga muita saúde, paz, amor e felicidade - para si, e para os que lhe são queridos.
Um forte abraço,
Manuel Palhares
A sua carta é um hino de louvor à nossa querida Beira, cidade do Amor,da Amizade e da Fraternidade. Os meus parabéns. Que Deus o inspire dessa forma, para nos ir adoçando a boca e alegrando os nossos corações.
Rogerda Beira,
Muito obrigado pela sua visita e pelas suas amáveis palavras.
Também a Rogerda traz no seu coração, para sempre, aquela saudosa princesa do Índico.
Um grande abraço beirense,
Manuel Palhares
Como fiquei feliz e emocionada ao encontrar este blog.Nasci na Beira em 1953 e a deixei com o coração em pedaços em 1976.Tambei estudei no colégio Luis de Camões,o primário no antigo Diário de Moçambique por trás do cinema S.Jorge depois nas casas gémeas e por ultimo nas novas instalações.Sempre morei na Rua Correia de Brito em frente aos Sindicatos,sou filha do piloto e empresário Élio de Vasconcelos e neta do pioneiro e construtor António Borges de Araújo.Quem se lembra de min?Beijos saudades Lena vasconcelos.
Olá Lena Vasconcelos,
Boa-tarde!
Que bom que, por uns breves momentos, pôde recordar a nossa Beira e sentir-se feliz.
Infelizmente não nos conhecemos, mas a Lena é mais para a idade do meu irmão, o Fernando Palhares(NANI!) que nasceu em 1952.Ele também estudou no Colégio Luís de Camões durante seis anos: da 1ª. classe, até terminar o 2º. ano do Liceu.
Desejo-lhe uma óptima semana, com saúde e boa disposição.
Um beijinho,
Manuel Palhares
Ola Manuel...vi por acaso este site, e que saudades da nossa querida Beira, o jardim do bacalhau onde fui tao feliz(como diz o malato), mas eu digo do fundo do coração, sou mutio nostalgica e as saudades sao imensas daquela terra maravilhosa, onde cresci, estudei casei e engravidei do m filho mais velho que veio nascer em Coimbra em 1976. Sou a Minô Lopes, filha do dono do Restaurante Luso, em frente ao cinema Olympia, andei na escola Eduardo Vilaça ate a 4ª classe depois nas meres e segui op Salisbury onde tirei na Escola Politecnica o curso de estenegrafia e secrataria. Vivo no Porto, fiquei vivuva ha 2 anos(m marido era de Vila Pery, o Sebastião Lopes, filho do construtor Lopes), tenho 3 filhos e 2 netinhas de 4 anos. Tenho muitas saudades da Beira e gostava de voltar. Um bj p contato minolopes@hotmail.com ou Leonor.Lopes@spn.pt
Ola Lena vasconcelos
Claro que te conheco desde miuda.Resido no Canada onde estou casado.Manda-me o teu e-mail para o meu e-mail f_rebelo@hotmail.com
Abracos,
Fernando Helder Rebelo
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