No Crepúsculo
Íamos de mãos dadas pela praia, junto à água. Estávamos, no ciclo das marés, em baixa-mar e o mar estava chão, parecia uma piscina. O Sol explodia em tons de amarelo, laranja e vermelho. Descia e preparava-se para se esconder no horizonte. Soprava uma brisa ligeira e cálida que envolvia os nossos corpos ainda molhados, numa doce sensação de prazer.
Convidei-te a subirmos um pouco, para nos sentarmos onde a areia não estivesse molhada. Olhaste para mim com um rosto tão sereno, onde os teus lindos olhos riam ao desafio com os teus dentes e eu, como sempre que isso acontecia, ficava como que em hipnose, preso a tanta fascinação. Sentámo-nos e eu aninhei a minha cabeça no teu colo. Tu, com os teus dedos finos e longos, penteavas-me o cabelo. Eu, fechei os olhos, e naquele momento não queria mais da vida, excepto perpetuar aquele instante. Depois, agradeci-te os anos que passámos juntos: na saúde e na doença, nas alegrias e nas tristezas, nos êxitos e nos inêxitos.
Os filhos que criámos e que são o nosso orgulho, vieram um pouco tarde, mas até nisso não nos devemos lamentar. Como teria sido, há trinta e dois anos, se os tivéssemos que criar nos quartos alugados por onde andámos?! Assim, sempre se conheceram na mesma cidade, no mesmo bairro e na mesma casa. Têm raizes. Jurámos que íamos fazer tudo para que com os nossos filhos não acontecesse o que se passa connosco - não são e não se sentem apátridas como nós. Lembraste quando me dizias, "A minha Terra não é esta"? No meio de tanta luta que nos faz hoje precocemente cansados e envelhecidos, vacilámos algumas vezes, mas mesmo nos momentos mais complicados, continuámos todos os dias, um a seguir ao outro, a reconstruir tudo o que perdemos e hoje não temos razões para nos queixar. Quando chegar a hora, podemos partir com a sensação do dever cumprido. Que mais podemos desejar neste mundo de tantas desigualdades e injustiças? Até nos devemos considerar previlegiados, em relação à grande maioria dos nossos semelhantes por esse mundo fora.
Fomos protagonistas de um processo histórico - o fim do colonialismo europeu em África.
Manuel Palhares
Odivelas, 3 de Abril de 2006.
13 Comments:
Manel
AMOR se chama
Essa Chama que Arde
VOS UNE
Que DEUS Vos continue Abençoar
E vos deixe assim juntinhos,
Viver por muitos anos ainda.
Juntos e com saúde, alegria e paz.
Porque as provações que tiveram
Foram as que vos muito ajudaram
A essa LUZ tão bela
Ainda hoje resplandecer.
Um beijinho aos DOIS.
Isabel
Teu testemunho é lindo.
Isabel,
Obrigado por palavras tão amáveis.
Um beijinho,
Manel
Manel
Gostei mas não quero comentar. Continuem assim.
Um abraço
M. Costa
Costinha,
Obrigado pela visita.
Um abraço,
Manel
É tão lindo aquilo que realmente une um casal, compreensão, confiança, amor apesar de todas as vicissitudes! Como dia a Isabel, que Deus vos continue a abençoar.
Um beijinho
MManuel
Maria Manuel,
Muito obrigado.
Todos nós tivemos que passar por bocados e situações desagradáveis, quanto mais não seja, não ter sido por nossa opção, o termos que vir para cá e recomeçar tudo de novo.
Mas sobrevivemos, embora com a alma cheia de nostalgia pelas raízes que lá ficaram...
Um beijinho,
Manel
Coca-Coca,
Muito obrigado minha amiga, muito obrigado.
Como eu tenho tudo dos "Escaravelhos", vou procurar esta noite e ouvir.
Sabes, a casca, por fora é que está muito gasta...
Que lindo o brinde que nos fazes com o teu coração!
Um beijinho para ti, com muita amizade e carinho.
Manel
Coca-cola,
Obrigado por estes versos que foram muito do meu agrado.
Para em parte a eles te responder, digo-te que hoje fui arrastado pela filha que chegou no sábado e achou que nestes seis meses da sua ausência, o pai no vestir se descuidou. Foram três horas de banho de loja e falando pouco e baixo, num virote colocou, os conhecidos e amigos proprietários. No fim, sem nada pedirmos, um deles, ainda em hora de loja aberta, a casa de BMW nos veio trazer: a nós e aos sacos.
Com estas coisas a mimarem-me, como não hei-de de me sentir feliz?!
Um bom fds, obrigado por tudo e um beijinho,
Manel
Coca-Cola,
E eu não digo?!
Eu não estou por certo muito enganado quando digo que temos nesta amiga uma poetisa de primeira água. E se um dia deixar a quadra e se preocupar menos com a rima, mas antes com o conteúdo dos seus belos e sentidos versos, então vai ser um caso sério. Muito sério mesmo.
Um beijinho,
Manel
O blog do senhor é muito interessante!!Sou do Brasil,do Rio de Janeiro e gostaria muito de conhecer pessoas de outros países de Língua portuguesa.Sou estudante de Letras Português/Inglês,gosto de ler e escrever e aproveito para divulgar meu blog,que está apenas começando!!www.detudoumpoucorj.blogspot.com
Gabriela Barbosa,
Olá minha jovem amiga.
Muito obrigado pela sua visita ao meu blog e pelas suas amáveis palavras.
Apareça por aqui sempre que lhe apetecer e será para nós todos um prazer trocar opiniões consigo: de tudo um pouco, como o nome do seu blog.
Um beijinho,
Manuel
Manel,
Lindo...lindo...lindo demais!!!
No "Soneto da Fidelidade", o Vinícius de Moraes encerra dizendo assim:
"Que não seja imortal, posto que é chama,
Mas que seja infinito enquanto dure"
Essa tua chama não apagou, nem apagará nunca, pois foi solidificada em meio à vários problemas superados.
Beijos para os dois,
Mayra
Mayra, minha amiga,
Já vi que resolveste o problema que tinhas em enviar os teus sempre preciosos comentários. Fiquei muito contente como podes calcular.
Lindas as palavras do Vinícius.
Os dois agradecem as tuas amáveis palavras e enviam-te um beijinho,
Manel
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