As “Ma Mères” Bárbara e Chagas
Só um ano depois de chegar à Beira, com seis anos, é que eu comecei a estudar. Naquela altura entrava-se para a escola com sete anos.

Os meus pais decidiram matricular-me num colégio de religiosas que toda a gente conhecia na Beira, o Colégio Nossa Senhora dos Anjos, vulgo “ Ma Mères” ou “Maméres”.
A directora do colégio era uma jovem e muito bonita “mère” Gabriela(?), de quem se dizia que tinha ido para freira por desgosto de amor.
E foi assim que em Setembro de 1951 eu entrei para a 1ª classe do colégio, tendo como professora a “mère” Bábara.
Foi com ela que aprendi a ler, a escrever, a tabuada e a fazer contas. Só por isso devo-lhe o meu reconhecimento.
O primeiro dia não correu lá muito bem. Cheguei a casa a chorar “baba e ranho” porque estava constipado, tinha-me esquecido do lenço e tudo me correu mal.
Lembro-me de ter por colegas o José Roca, os irmãos Elias e Vito Palha de Sousa, o Duarte... e muitas meninas, a maioria.
Ali aprendi as primeiras letras e números, com a ajuda daquele livro que tinha na capa uma menina e um menino a estudarem: "O Livro Da Primeira Classe". Para além das aulas, tínhamos ginástica com um professor. Também tive aulas de piano com a “mère” Inês(?).
Tive aulas de catecismo para me preparar para a minha primeira comunhão. Recebia muitos santinhos e via filmes sobre a acção missionária em África.
No Natal havia sempre uma festa a que os pais assistiam e onde os alunos mostravam as suas capacidades artísticas: tocando piano, dizendo poesia, dançando ballet ou representando pequenas peças de teatro. Ainda conservo comigo o programa da Festa de Natal de 1952, de onde consta que um tal Manuel Palhares tocou ao piano o “ Soldadinho de Chumbo”.
Na 2ª classe a minha professora foi a “mère” Chagas, uma freira muito boazinha e já com idade avançada. Continuou e aprofundou o trabalho da “mère” Bárbara e foi com ela que aprendi a escrever as primeiras redacções. Muito calma, o seu maior castigo, quando nos portávamos mal, era ficarmos um minuto ou dois virados para a parede num canto da sala.
Nesta época houve uma altura em que eu e o Zé Roca resolvemos tirar uns dias de férias extras. E então, em vez de irmos para o colégio,

E era este pequeno testemunho que aqui queria deixar, como uma simples mas sentida homenagem a quem me ensinou as primeiras letras.
Manuel Palhares
Odivelas, 31 de Outubro de 2005.
* Gravuras publicadas por José Maria Mesquitela em "Arquivo Vivo de Moçambique".
2 Comments:
Exmo sr
Manuel Palhares
A pedido da minha tia Pilar,comecei a fazer uma pesquisa sobre os lugares de referência em África, que marcaram a sua vida. Pois meu caro amigo, devo informá-lo que a Mere Gabriela directora do colégio onde estudou na Beira, é a minha tia Maria del Pilar. Hoje com 89 anos é ainda uma pessoa no pleno uso das suas faculdades, e muito saudosa dos anos maravilhosos que passou em`África ( Beira até 1961, Lourenço Marques até 1967 ).Como comecei apenas agora a fazer a solicitada pesquisa que referi, ainda não sei o que vou encontrar. Devo no entanto informá-lo que imprimi algumas páginas do seu blog para mostrar à minha tia, que desde já lhe digo ficou um pouco emocionada. É com o maior prazer que deixo o meu contacto , para que caso esteja interessado, contactar posteriormente a minha tia (Mere Gabriela ) ou Maria del Pilar Sá e Mello.
Sem outro assunto e com os mais respeitosos cumprimentos.
Luis Sá e Mello
tel 911929464
luis-mello@clix.pt
Meu caro sr. Luís Sá e Mello,
Como já lhe disse no telefonema desta tarde, deu-me uma das maiores alegrias da minha vida: saber que ainda é viva e que está de boa saúde a minha querida Mère Gabriela, directora do Colégio Nossa Senhora dos Anjos que frequentei na cidade da Beira em Moçambique.
A emoção foi muita e por me a ter proporcionado, o meu muito obrigado.
Conforme combinámos fico, ansioso, a aguardar notícias.
Atentamente e ao seu dispor,
Manuel Palhares
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