A Guida e o Amadeu
Que saudades que eu tenho
De dois amigos que tive.
Um foi na flor da idade
A outra um pouco mais tarde.
Ele chamava-se Amadeu
Ela era a Ermelinda.
Éramos tão amigos...
A ele conheci-o primeiro
Desde a escola primária.
Ela conheci-a mais tarde
Já a largar o liceu.
Com ele nunca me zanguei,
Com ela por vezes discutia.
Dava tudo o que tenho
Para lhes dar de novo a vida.
Com ele fui escuteiro
Fizemos acampamentos
Fizemos longas viagens
Até para fora de Moçambique...
Com ela discutia Camus e Sartre
E seus existencialismos
E quando a irritava
Gritava-me siderada:
- Vai à merda Manel!
Eram ambos muito inteligentes
Embora muito diferentes:
Ele calmo, mas alegre
Ela mais nervosa e arisca.
Numa coisa porém eram iguais:
Eram ambos reservados
Com um coração enorme.
E como tudo tem um nome nesta vida:
A ele tratava-o por primo
A ela por Guida.
Não sei porquê
Mas não nasceram para ser felizes:
E porque eram reservados
Viveram acompanhados
Por uma enorme solidão!
Ele suicidou-se antes dos quarenta
Ela morreu minada de doenças...
Hoje que os não tenho
Zango-me com os dois:
- Porque foram? Porque partiram?
Porque me deixaram a memória?
Manuel Palhares
Odivelas, 2 de Agosto de 2005.
* Imagem cedida por Tininha Noronha Marques.
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