Quem se lembra, quem se lembra, de uma ida ao cinema?
Quando eu era menino, às vezes, aos sábados ou aos domingos, de tarde, eu ia ao cinema, eu ia à “ matiné ”. E vocês também! Quem se lembra? Quem se lembra?
Ah que grande excitação! Todos muito arranjadinhos, cheirosos e lavadinhos...
Aquilo era uma alegria naquelas sessões da tarde: ou se ia ao cinema REX, ou ao cinema OLÍMPIA, porque não havia mais nenhum. Para os que só agora vão ao cinema, de há trinta anos para cá, deixem-me que vos diga que, antigamente, essa acção era diferente. Não se entrava numa sala e se estava ali fechado, entre duas a três horas, saindo de lá cansado, com os olhos a arder e com a bexiga apertada. Nada disso! É que dantes havia uma coisa, havia algo, havia um espaço de tempo chamado INTERVALO. E havia dois: o primeiro e o segundo! Que entre outras coisas serviam, para mostrarmos o entusiasmo sobre o que já se tinha visto, trocarmos opiniões, beber um refresco, fazer um xixi...
Bem! Todos excitados, de bilhete na mão, lá íamos em direcção ao porteiro para ele nos cortar o talão. Depois, pela sala fora, à procura do lugar. O entusiasmo ia em crescendo...Quando tocava o gongo para as luzes se apagarem já não aguentávamos mais, começava a agitação. E fechavam-se as luzes e abria o pano! Uf! Até que enfim... Nem que tivessem sido uns minutos, aquela espera, parecia anos...
E na pantalha aparecem os desenhos animados. Era uma gritaria, era o delírio total! E vêm os nossos primeiros heróis: o Pernalonga ou Bugs Bunny – isso agora não interessa – o Tom e o Jerry, o Mister Magoo, o Piu-Piu e o gato Silvester, o Pato Donald e toda a sua família e tantos, tantos outros mais... Nós encolhíamos de medo ou gritávamos de satisfação, conforme a ocasião e o apuro pelo qual o nosso herói estava, naquele momento, a passar. E pensam que acabava toda aquela animação com o fim dos desenhos animados? Nem pensem nisso! Aquilo não era nada, estava só a começar. Ainda não tínhamos sossegado, ainda o “That’s all folks...” e o “The End” estavam na nossa retina e já no écran aparecia o começo de um episódio de outros nossos heróis: o Roy Roger e o Tom Mix e tantos outros cowboys; o Homem Bala e o Batman e também o.... “ IT’S SUPERMAN!”. Acreditem, podem crer, que era a loucura geral. Gritávamos, batíamos palmas e batíamos com os pés no chão... E então os Três Patetas, esses grandes estarolas?! Meninos, aquilo é que era animação! Em seguida vinham os jornais noticiosos e as apresentações de outros filmes, para nos abrir o apetite para futuras sessões. E connosco exaltados e rubros até, lá vinha o primeiro intervalo! Quase que era um alívio poder sair por uns momentos da sala. Muitos corriam para o xixi e depois para o copo de água...que lá fazia calor. Juntávamo-nos em grupos e falávamos alto. Discutíamos o que se tinha passado e o que vinha a seguir. Como éramos pequenos com os nossos seis, sete, oito, nove, dez anos!
Ding-Dong! Era o fim do primeiro intervalo. Corríamos para a sala e para os nossos lugares... E começava o filme, só com coisas de encantar: A Branca de Neve e os Sete Anões, A Bela Adormecida, A Gata Borralheira e, claro, esse herói maravilhoso que era o Peter Pan! Mais de carne e osso e meninos como nós, havia os filmes com a Marisol e com o Joselito. Mas esses eram por vezes tristes, faziam chorar, embora acabassem bem. E todos nós sonhávamos com os olhos bem abertos... E quando a acção se encontrava no máximo da excitação, quando todos nós queríamos ver como era a continuação, as luzes acendiam-se de novo e a cortina fechava: era o segundo intervalo! De novo cá para fora, aqueles que queriam vir. Outros esperavam na sala, sentados nos seus lugares, que o intervalo acabasse... Nova troca de opiniões. Como será que irá acabar? Finalmente terminava este intervalo de suspensão e podíamos continuar a ver o decorrer da acção. E quando tudo acabava, quando chegava o final, era ver como saíamos da sala, era olhar para as nossas caras: mas que grande felicidade, mas que grande satisfação, trazíamos espelhadas nos rostos. Eram faces de crianças que ainda não conheciam o mal, que só queriam ir para casa jantar, ir depressa para a cama e depressa adormecer, para poderem sonhar outra vez...
Manuel Palhares
Odivelas, 28 de Julho de 2005.
Ah que grande excitação! Todos muito arranjadinhos, cheirosos e lavadinhos...
Aquilo era uma alegria naquelas sessões da tarde: ou se ia ao cinema REX, ou ao cinema OLÍMPIA, porque não havia mais nenhum. Para os que só agora vão ao cinema, de há trinta anos para cá, deixem-me que vos diga que, antigamente, essa acção era diferente. Não se entrava numa sala e se estava ali fechado, entre duas a três horas, saindo de lá cansado, com os olhos a arder e com a bexiga apertada. Nada disso! É que dantes havia uma coisa, havia algo, havia um espaço de tempo chamado INTERVALO. E havia dois: o primeiro e o segundo! Que entre outras coisas serviam, para mostrarmos o entusiasmo sobre o que já se tinha visto, trocarmos opiniões, beber um refresco, fazer um xixi...
Bem! Todos excitados, de bilhete na mão, lá íamos em direcção ao porteiro para ele nos cortar o talão. Depois, pela sala fora, à procura do lugar. O entusiasmo ia em crescendo...Quando tocava o gongo para as luzes se apagarem já não aguentávamos mais, começava a agitação. E fechavam-se as luzes e abria o pano! Uf! Até que enfim... Nem que tivessem sido uns minutos, aquela espera, parecia anos...
E na pantalha aparecem os desenhos animados. Era uma gritaria, era o delírio total! E vêm os nossos primeiros heróis: o Pernalonga ou Bugs Bunny – isso agora não interessa – o Tom e o Jerry, o Mister Magoo, o Piu-Piu e o gato Silvester, o Pato Donald e toda a sua família e tantos, tantos outros mais... Nós encolhíamos de medo ou gritávamos de satisfação, conforme a ocasião e o apuro pelo qual o nosso herói estava, naquele momento, a passar. E pensam que acabava toda aquela animação com o fim dos desenhos animados? Nem pensem nisso! Aquilo não era nada, estava só a começar. Ainda não tínhamos sossegado, ainda o “That’s all folks...” e o “The End” estavam na nossa retina e já no écran aparecia o começo de um episódio de outros nossos heróis: o Roy Roger e o Tom Mix e tantos outros cowboys; o Homem Bala e o Batman e também o.... “ IT’S SUPERMAN!”. Acreditem, podem crer, que era a loucura geral. Gritávamos, batíamos palmas e batíamos com os pés no chão... E então os Três Patetas, esses grandes estarolas?! Meninos, aquilo é que era animação! Em seguida vinham os jornais noticiosos e as apresentações de outros filmes, para nos abrir o apetite para futuras sessões. E connosco exaltados e rubros até, lá vinha o primeiro intervalo! Quase que era um alívio poder sair por uns momentos da sala. Muitos corriam para o xixi e depois para o copo de água...que lá fazia calor. Juntávamo-nos em grupos e falávamos alto. Discutíamos o que se tinha passado e o que vinha a seguir. Como éramos pequenos com os nossos seis, sete, oito, nove, dez anos!
Ding-Dong! Era o fim do primeiro intervalo. Corríamos para a sala e para os nossos lugares... E começava o filme, só com coisas de encantar: A Branca de Neve e os Sete Anões, A Bela Adormecida, A Gata Borralheira e, claro, esse herói maravilhoso que era o Peter Pan! Mais de carne e osso e meninos como nós, havia os filmes com a Marisol e com o Joselito. Mas esses eram por vezes tristes, faziam chorar, embora acabassem bem. E todos nós sonhávamos com os olhos bem abertos... E quando a acção se encontrava no máximo da excitação, quando todos nós queríamos ver como era a continuação, as luzes acendiam-se de novo e a cortina fechava: era o segundo intervalo! De novo cá para fora, aqueles que queriam vir. Outros esperavam na sala, sentados nos seus lugares, que o intervalo acabasse... Nova troca de opiniões. Como será que irá acabar? Finalmente terminava este intervalo de suspensão e podíamos continuar a ver o decorrer da acção. E quando tudo acabava, quando chegava o final, era ver como saíamos da sala, era olhar para as nossas caras: mas que grande felicidade, mas que grande satisfação, trazíamos espelhadas nos rostos. Eram faces de crianças que ainda não conheciam o mal, que só queriam ir para casa jantar, ir depressa para a cama e depressa adormecer, para poderem sonhar outra vez...
Manuel Palhares
Odivelas, 28 de Julho de 2005.
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