As minhas aventuras em Pebane - III
Episódio Nº 3
A minha mãe e eu acabámos de almoçar e ela nem me deixou respirar:
- Vai lavar as mãos e os dentes! – disse-me ela.
- Tá bem mamã. Depois posso-te contar com o que sonhei hoje e o que aprendi hoje de manhã?
- Claro que podes. Vai, despacha-te. Eu vou ali sentar-me na sala e fico à tua espera.
Eu fui e vim num relâmpago.
- Já!? Deixa-me ver essas mãos e esses dentes! Uhm! Então conta-me lá esse sonho que tanta pressa tens em fazê-lo.
- Ó mamã, estás a ver estes livros enormes que estão aqui nesta mesa?! Eu à tarde, depois do almoço, e à noite, depois do jantar, venho sempre para aqui lê-los e ver as fotografias! E como cada um tem na capa a fotografia de um animal diferente, assim eu posso escolher se quero ler sobre caçadas de elefantes, de leões, de búfalos, de leopardos, de antílopes e assim. Estás a compreender, mamã?
- Estou, estou! E depois vais para a cama sonhar com essas coisas e até falas a dormir! Não devias ler essas coisas à noite, porque depois vais agitado para a cama.
- Oh! Mamã! Não te preocupes. Eu durmo bem e adoro os meus sonhos.
Acordo sempre bem disposto e feliz!
- Então conta-me cá com o que é que sonhaste esta noite. Com alguma caçada que lês nesses livros, não!?
- Não, mamã! Esta noite sonhei com o Rei Salomão!
- Com o Rei Salomão! Andaste a ler a Bíblia também?
Ó mamã, não foi com esse! Fui com o outro, o que tinha as minas de diamantes e outras pedras preciosas aqui em África!
- Ah! Com esse! E então, que aconteceu nesse teu sonho, assim de tão importante?
- Aconteceu que eu era um guerreiro zulu mamã! E pertencia aos guardas especiais do Rei, àqueles que só o podiam ser depois de terem dado provas de grande valentia, de grande coragem. Tinham que ir para o mato sozinhos, só com uma lança e matar um leão. E eu consegui isso! Bem, pelo menos no meu sonho...
- E também me querias contar qualquer coisa que aprendeste com esse menino, filho do empregado da casa aqui ao lado, não era?
- Era, era, mamã! Ele ensinou-me a fazer cordas com uma planta que se chama sisal. Tu sabias isso?
- Bem. Para ser franca contigo só sei que as cordas são de sisal e não sei mais nada.
Então eu contei, demorada e detalhadamente, à minha mãe, tudo o que tinha aprendido com o Zambézia nessa manhã. A minha mãe olhava-me admirada e quando eu acabei de contar a história, afirmou:
- Num destes dias, hás-de trazer esse menino cá a casa, para eu o conhecer. Convida-o para cá vir lanchar contigo.
- Posso mamã, posso?
- Claro que podes! É isso precisamente que te estou a dizer.
- Ó mamã, obrigado! Tu és muito boa e eu gosto muito de ti.
- Também eu gosto muito de ti, do teu irmão e do papá. Nunca te esqueças disso. Olha, parece-me que o teu irmão acordou. Vou ver como é que ele está. Podes ir brincar com esse teu amigo, mas não te esqueças do capacete. Ao sol ainda está muito quente. Tem cuidado por onde andas. Não te esqueças da hora do lanche.
- Pronto, agora vai! Que vou ver o teu irmão que já chama por mim, não o ouves?
- Ouço sim, mamã. Parece-me que acordou bem disposto. Até logo mamã!
Eu já ia disparado, sala fora, quando a minha mãe me perguntou:
- Ouve lá, filho. Tu ainda não me disseste o nome desse menino teu amigo. Como é que ele se chama?
- Chama-se Zambézia, mamã!
- Zambézia! – exclamou a minha mãe admirada. – Tem piada! Tem piada!
Fim do 3º Episódio
Manuel Palhares
Odivelas, 16 de Setembro de 2005.
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