O Poeta da Semana : António Gedeão
TEMPO DE POESIA
Todo o tempo é de poesia.
Desde a névoa da manhã
à névoa do outro dia.
Desde a quentura do ventre
à frigidez da agonia.
Todo o tempo é de poesia.
Entre bombas que deflagram.
Corolas que se desdobram.
Corpos que em sangue soçobram.
Vidas que a amar se consagram.
Sob a cúpula sombria
das mãos que pedem vingança.
Sob o arco da aliança
da celeste alegoria.
Todo tempo é de poesia.
Desde a arrumação do caos
à confusão da harmonia.
António Gedeão
Fonte: Gedeão, António (2004) . Obra Completa. Lisboa: Relógio D' Água.
3 Comments:
Ôi Manel, boa noite ou bom dia, depende do ponto de vista de cada um.
Cá estou eu contribuindo com mais um pouquinho de Gedeão.
GEDEÃO, António (1906-1997)
Pseudónimo literário do professor português Rómulo Vasco da Gama de Carvalho, licenciado em Ciências Físico-Químicas. Tendo aparecido ao grande público como poeta na década de 50, os "seus poemas abordam problemas atinentes a todas as ocupações humanas, transformam em imagens fenómenos científicos (da física, química, biologia, mineralogia), manipulam a arte, penetram nos laboratórios, nas praças, nos transportes, nas oficinas e outros locais de trabalho. Não ficam alheios às vivências existenciais da solidão humana. Mostram irradiante simpatia pelos que executam trabalhos árduos e pelos que sofrem. E, às vezes, que fino humor e ironia cáustioca se não desprendem de alguns desses poemas"...
Lágrima de Preta
Encontrei uma preta
que estava a chorar,
pedi-lhe uma lágrima
para a analisar.
Recolhi a lágrima
com todo o cuidado
num tubo de ensaio
bem esterilizado.
Olhei-a de um lado,
do outro e de frente:
tinha um ar de gota
muito transparente.
Mandei vir os ácidos,
as bases e os sais,
as drogas usadas
em casos que tais.
Ensaiei a frio,
experimentei ao lume,
de todas as vezes
deu-me o que é costume:
nem sinais de negro
nem vestígios de ódio.
Água (quase tudo)
e cloreto de sódio.
Lindo não é ??!!!
E agora vou dormir porque estou "morta". Preciso esticar o esqueleto.
Beijinhos.
Tem imensa graça, que estive a ler Gedeão e foram estes dois poemas
que eu estive para aqui escrever, pelo menos este que tu publicaste e a lágrima de preta. Adoro, adoro
Gedeão. Como os gostos se aproximam!! Continua que tens aqui uma leitora assídua.
Beijinho MManuel
Coca, minha amiga,
Muito obrigado por esta preciosa colaboração: biografia, análise e poema.
Que mais se pode desejar!
Um bom fim-de-semana e um beijinho,
Manel
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Maria Manuel, minha amiga,
O António Gedeão é realmente um caso muito original entre os poetas da sua geração.
Também gosto muito dele.
Um bom fim-de-semana e um beijinho,
Manel
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