Beira Meu Amor

A Beira foi o grande amor da minha vida. Recebeu-me com seis anos, em Novembro de 1950 e deixei-a, com a alma em desespero e o coração a sangrar, em 5 de Agosto de 1974. Pelo meio ficaram 24 anos de felicidade. Tive a sorte de estar no lugar certo, na época certa. Fui muito feliz em Moçambique e não me lembro de um dia menos bom. Aos meus pais, irmão, outros familiares, amigos e, principalmente, ao Povo moçambicano, aqui deixo o meu muito obrigado. Manuel Palhares

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quinta-feira, fevereiro 23, 2006

O Poeta da Semana : António Gedeão


TEMPO DE POESIA


Todo o tempo é de poesia.

Desde a névoa da manhã
à névoa do outro dia.

Desde a quentura do ventre
à frigidez da agonia.

Todo o tempo é de poesia.

Entre bombas que deflagram.
Corolas que se desdobram.
Corpos que em sangue soçobram.
Vidas que a amar se consagram.

Sob a cúpula sombria
das mãos que pedem vingança.
Sob o arco da aliança
da celeste alegoria.

Todo tempo é de poesia.

Desde a arrumação do caos
à confusão da harmonia.


António Gedeão

Fonte: Gedeão, António (2004) . Obra Completa. Lisboa: Relógio D' Água.

3 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Ôi Manel, boa noite ou bom dia, depende do ponto de vista de cada um.
Cá estou eu contribuindo com mais um pouquinho de Gedeão.

GEDEÃO, António (1906-1997)
Pseudónimo literário do professor português Rómulo Vasco da Gama de Carvalho, licenciado em Ciências Físico-Químicas. Tendo aparecido ao grande público como poeta na década de 50, os "seus poemas abordam problemas atinentes a todas as ocupações humanas, transformam em imagens fenómenos científicos (da física, química, biologia, mineralogia), manipulam a arte, penetram nos laboratórios, nas praças, nos transportes, nas oficinas e outros locais de trabalho. Não ficam alheios às vivências existenciais da solidão humana. Mostram irradiante simpatia pelos que executam trabalhos árduos e pelos que sofrem. E, às vezes, que fino humor e ironia cáustioca se não desprendem de alguns desses poemas"...


Lágrima de Preta

Encontrei uma preta
que estava a chorar,
pedi-lhe uma lágrima
para a analisar.
Recolhi a lágrima
com todo o cuidado
num tubo de ensaio
bem esterilizado.
Olhei-a de um lado,
do outro e de frente:
tinha um ar de gota
muito transparente.
Mandei vir os ácidos,
as bases e os sais,
as drogas usadas
em casos que tais.
Ensaiei a frio,
experimentei ao lume,
de todas as vezes
deu-me o que é costume:
nem sinais de negro
nem vestígios de ódio.
Água (quase tudo)
e cloreto de sódio.

Lindo não é ??!!!
E agora vou dormir porque estou "morta". Preciso esticar o esqueleto.
Beijinhos.

sexta-feira, fevereiro 24, 2006 12:07:00 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Tem imensa graça, que estive a ler Gedeão e foram estes dois poemas
que eu estive para aqui escrever, pelo menos este que tu publicaste e a lágrima de preta. Adoro, adoro
Gedeão. Como os gostos se aproximam!! Continua que tens aqui uma leitora assídua.
Beijinho MManuel

sexta-feira, fevereiro 24, 2006 9:31:00 da tarde  
Blogger Manuel Palhares said...

Coca, minha amiga,

Muito obrigado por esta preciosa colaboração: biografia, análise e poema.
Que mais se pode desejar!
Um bom fim-de-semana e um beijinho,

Manel

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Maria Manuel, minha amiga,

O António Gedeão é realmente um caso muito original entre os poetas da sua geração.
Também gosto muito dele.
Um bom fim-de-semana e um beijinho,

Manel

sábado, fevereiro 25, 2006 7:00:00 da tarde  

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