Contos da Natal - O Natal de 1951
O meu primeiro Natal em Moçambique, na cidade da Beira, foi o de 1950.
Eu e a minha mãe tínhamos chegado à Beira, no paquete Moçambique, da Companhia Nacional de Navegação, em finais de Novembro, numa manhã de sábado. À nossa espera, no cais, louco de alegria, estava o meu querido Pai.
Do cais, fomos para a Pensão Leão de Ouro, na Ponta Gea, junto ao Jardim do Bacalhau e a cinquenta metros do Oceano Índico. Ali passei os primeiros oito meses de Beira: todos os dias ia para a praia, em frente ao Pavilhão Oceana, com a minha querida Mãe! Um mês depois da nossa chegada, foi o Natal e, dele, tenho poucas recordações. Eu só tinha seis anos!
Um ano depois, no Natal de 1951, já nós estávamos a habitar, desde o dia 1 de Agosto, aquela que foi a nossa primeira casa na cidade da Beira. Era uma casa que pertencia à Companhia Nacional Algodoeira e que foi cedida ao meu pai por uns meses. Essa casa, situava-se num pequeno largo que existia nas trazeiras da vivenda que ficava em frente ao Teatro Eduardo Brazão, perto, portanto, da Catedral da Beira e da Escola Eduardo Vilaça. Mas, o que eu quero mesmo, é aqui deixar o relato do que foi esse Natal e, pricipalmente, os dias que o antecederam.
Nessa altura já eu frequentava, desde o princípio de Setembro, a 1ª classe no Colégio Nossa Senhora dos Anjos (vulgo "Ma Mères"), e, portanto, já estava iniciado no significado religioso da data, para além, claro, daquilo que a minha mãe me ia ensinando. A minha excitação era muita, assim como o meu encantamento pela época.
Na semana que precedeu o Natal, eu e a minha mãe, por volta das quatro horas da tarde, metíamo-nos no autocarro, em frente à Catedral, e íamos ter com o meu pai, junto ao Café Scala. Dali, atravessávamos a rua e íamos lanchar ao velho Empório. Para mim esses lanhes eram um acontecimento: eram lanches com música ao vivo! É verdade! Alguns dos que aqui, eventualmente, farão o favor de me lerem, por certo se lembrarão dos fins de tarde daquela altura na Beira. Havia lanches com música ao vivo em vários locais da Beira: no salão de chá do velho Empório, no Beira Terrace, no Hotel Savoy, no Hotel Miramar e, por vezes, no pavilhão Oceana. A Beira era uma cidade com hábitos que imitavam o estilo de vida colonial inglês, das colónias inglesas vizinhas. Mas, voltando aos assuntos natalícios, depois do lanche, íamos ao Empório loja e os meus pais iam fazendo as compras para a época festiva que se aproximava, comigo sempre atento ao que compravam. Depois, também de autocarro, por volta das sete horas, regressávamos a casa. Num desses dias, por muita insistência minha, o meu pai lá comprou uma árvore de natal artificial e os respectivos enfeites. Chegados a casa e porque eu não me calava com tanta excitação, os meus pais armaram aquela que foi a nossa árvore de natal durante os seguintes vinte e quatro anos! Como eu ainda me lembro de todo aquele ambiente de grande alegria para mim, pricipalmente quando, na vépera de Natal, à noite, depois da Consoada, o meu pai acendeu umas velas que se colocavam na árvore de natal, dentro de uns pequenos castiçais, os quais se prendiam aos ramos da árvore por uma pequena mola.
Ainda me lembro da minha prenda nesse Natal: foi um carro vermelho que se movia com a ajuda de uma pequena bomba de ar.
Claro que naquela altura eu ainda não tinha definido o conceito de felicidade, mas que a minha alegria e bem estar eram enormes, lá isso eram e tudo isso graças aos meus queridos e saudosos pais.
Aproveito este relato, sem muita graça, mas cheio de doce nostalgia, do Natal de 1951, em Moçambique, na cidade da Beira, para desejar a todos os meus amigos e seus familiares, assim como a outros eventuais leitores, um muito Feliz Natal de 2006, com muita saúde, paz e alegria.
Um apertado abraço do,
Manuel Palhares
Odivelas, 3 de Dezembro de 2006.
Eu e a minha mãe tínhamos chegado à Beira, no paquete Moçambique, da Companhia Nacional de Navegação, em finais de Novembro, numa manhã de sábado. À nossa espera, no cais, louco de alegria, estava o meu querido Pai.
Do cais, fomos para a Pensão Leão de Ouro, na Ponta Gea, junto ao Jardim do Bacalhau e a cinquenta metros do Oceano Índico. Ali passei os primeiros oito meses de Beira: todos os dias ia para a praia, em frente ao Pavilhão Oceana, com a minha querida Mãe! Um mês depois da nossa chegada, foi o Natal e, dele, tenho poucas recordações. Eu só tinha seis anos!
Um ano depois, no Natal de 1951, já nós estávamos a habitar, desde o dia 1 de Agosto, aquela que foi a nossa primeira casa na cidade da Beira. Era uma casa que pertencia à Companhia Nacional Algodoeira e que foi cedida ao meu pai por uns meses. Essa casa, situava-se num pequeno largo que existia nas trazeiras da vivenda que ficava em frente ao Teatro Eduardo Brazão, perto, portanto, da Catedral da Beira e da Escola Eduardo Vilaça. Mas, o que eu quero mesmo, é aqui deixar o relato do que foi esse Natal e, pricipalmente, os dias que o antecederam.
Nessa altura já eu frequentava, desde o princípio de Setembro, a 1ª classe no Colégio Nossa Senhora dos Anjos (vulgo "Ma Mères"), e, portanto, já estava iniciado no significado religioso da data, para além, claro, daquilo que a minha mãe me ia ensinando. A minha excitação era muita, assim como o meu encantamento pela época.
Na semana que precedeu o Natal, eu e a minha mãe, por volta das quatro horas da tarde, metíamo-nos no autocarro, em frente à Catedral, e íamos ter com o meu pai, junto ao Café Scala. Dali, atravessávamos a rua e íamos lanchar ao velho Empório. Para mim esses lanhes eram um acontecimento: eram lanches com música ao vivo! É verdade! Alguns dos que aqui, eventualmente, farão o favor de me lerem, por certo se lembrarão dos fins de tarde daquela altura na Beira. Havia lanches com música ao vivo em vários locais da Beira: no salão de chá do velho Empório, no Beira Terrace, no Hotel Savoy, no Hotel Miramar e, por vezes, no pavilhão Oceana. A Beira era uma cidade com hábitos que imitavam o estilo de vida colonial inglês, das colónias inglesas vizinhas. Mas, voltando aos assuntos natalícios, depois do lanche, íamos ao Empório loja e os meus pais iam fazendo as compras para a época festiva que se aproximava, comigo sempre atento ao que compravam. Depois, também de autocarro, por volta das sete horas, regressávamos a casa. Num desses dias, por muita insistência minha, o meu pai lá comprou uma árvore de natal artificial e os respectivos enfeites. Chegados a casa e porque eu não me calava com tanta excitação, os meus pais armaram aquela que foi a nossa árvore de natal durante os seguintes vinte e quatro anos! Como eu ainda me lembro de todo aquele ambiente de grande alegria para mim, pricipalmente quando, na vépera de Natal, à noite, depois da Consoada, o meu pai acendeu umas velas que se colocavam na árvore de natal, dentro de uns pequenos castiçais, os quais se prendiam aos ramos da árvore por uma pequena mola.
Ainda me lembro da minha prenda nesse Natal: foi um carro vermelho que se movia com a ajuda de uma pequena bomba de ar.
Claro que naquela altura eu ainda não tinha definido o conceito de felicidade, mas que a minha alegria e bem estar eram enormes, lá isso eram e tudo isso graças aos meus queridos e saudosos pais.
Aproveito este relato, sem muita graça, mas cheio de doce nostalgia, do Natal de 1951, em Moçambique, na cidade da Beira, para desejar a todos os meus amigos e seus familiares, assim como a outros eventuais leitores, um muito Feliz Natal de 2006, com muita saúde, paz e alegria.
Um apertado abraço do,
Manuel Palhares
Odivelas, 3 de Dezembro de 2006.
10 Comments:
Caro Manuel Palhares,
Vir aqui e ler o que nos ofereces com tanta nitidez é voltar ao Moçambique com o sabor que todos nós apreciamos. E é também um enorme prazer, podes crêr !
Obrigado por tuas palavras e votos Natalinos no ForEver Pemba. Retribuo com a mesma intensidade e calor, além de Amizade e consideração.
FELIZ NATAL e BOM ANO NOVO, para ti e todos os teus e pata teu excelente blogue.
Jaime Luis Gabão
Jaime,
Obrigado pelas tuas amáveis palavras, meu amigo.
Foi de ti que recebi o primeiro comentário aqui no blog!
Um abraço,
Manuel Palhares
Maneliiiii ja sabes ke é!
So para te dizer o kanto me encantou essa tua vivência! E olha ke nao sabia ke havia musica ao vivo, tambem ja nao era do meu tempo.Fizeste-me recuar no tempo, em ke éramos felizes e nao o sabiamos!
Sem graça? Cheio de graça e ternura.
Um beijao para todos ai em casa com votos de feliz natal já sabes.
Nós vamo-nos falando entretanto.
Palhares
É uma ternura o teu 1º Natal na Beira. Acho que pela vida fora nos vamos lembrando dos Natais que nos trouxeram felicidade (o conceito vai mudando com os anos), da nossa infancia, da nossa adolescencia, de adultos e depois na idade linda que temos.
Um Bom Natal para ti e para os teus.
Beijinho
MManuel
Caro amigo Manuael Palhares,
Cheguei à Beira no ano de 1963. Uma cidade gira e me viria a fascinar por cerca de uns oito anos. Toda a gente se conhecia e se bebia nos bares assinando vales. Os melhores tempos da minha juventude foram passados nessa simpática cidade, cosmopolita, onde chineses, indianos, mulatos, pretos e brancos viviam em harmonia. A malta do meu tempo, que se juntava na Praça do Municipio tinha namoradas na Manga e para lá seguiamos à noite para pernoitarmos na "palhota". Quatro num carro e 10 escudos de gasolina a 2.50 a pagar por cada um. De manhã a malta levantava-se e ao caminhar pelos carreiros, entre capim e árvores de cajueiros, cruzavamo-nos com os rapazez que iam trabalhar para a cidade ou no Porto e cumprimentavam-nos: BOM DIA CUNHADOS!
Bom Natal e Feliz 2007.
Até para ano.
José Martins
São,
Olá! Boa tarde!
Obrigado pela visita e pelas tuas palavras.
Sabe bem recordar, com nostalgia, momentos que foram muito felizes.
Obrigado pelos votos de feliz natal.
Um Feliz Natal para ti e para os teus.
Um beijinho,
Manel
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Maria Manuel,
Olá, boa tarde!
É isso mesmo Menina Grande.
E dizes uma coisa com a qual concordo: é linda a nossa idade de agora!
Obrigado pelos votos de Bom Natal.
Para ti e para os teus um Feliz Natal.
Um beijinho,
Manel
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Caro amigo José Martins,
Obrigado pela sua resposta e pelos seus votos de Boas Festas.
Foi bom ler o pedaço da sua vida na Beira, que aqui nos relata.
Para si e para todos os seus, um Feliz Natal e um Próspero Ano Novo.
Um abraço,
Manuel Palhares
Lindo relato!!!!
Encontrei você pelo blog da Gabi - de Tudo um Pouco.
Se quiser visitar o meu, ficarei muito feliz!!!
Feliz Natal,
Paz e Bem,
Aninha,
Olá amiguinha, boa tarde,
Obrigado pela sua visita e pelas palavras que aqui deixa.
Já tentei ir ao seu blog
mas, "clicando" no seu nome, não encontro o link para o blog. Pode-me enviar o link, por favor?
Tambén para você um Feliz Natal, com muita saúde, paz e amor.
Um beijinho,
Manuel Palhares
Isabel,
A Missão de S.Benedito na Manga! Do que te foste lembrar e que saudades boas trouxeste para o meu velho coração...
Obrigado, minha amiga pela visita e pelas palavras que aqui nos deixas.
Um Feliz Natal para ti e para o teu filho Jerónimo, com muita saúde, paz e amor.
Um beijinho,
Manel
..É com encanto e entusiasmo o que leio sobre a Beira no seu fantástico blogue!..O Proprietário do Leão D'Ouro da Ponta-Gêa e do Macúti- Sr. Alípio José Martins e sua esposa, Dona Gabriela J.T.Martins- eram meus padrinhos de baptismos..e com eles vivi até aos 15 anos!..Resta a saudade..Parabéns por nos oferecer tanto..M.Palhares com o teu blogue...!..cdiascardoso@gmail.com..
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