Beira Meu Amor

A Beira foi o grande amor da minha vida. Recebeu-me com seis anos, em Novembro de 1950 e deixei-a, com a alma em desespero e o coração a sangrar, em 5 de Agosto de 1974. Pelo meio ficaram 24 anos de felicidade. Tive a sorte de estar no lugar certo, na época certa. Fui muito feliz em Moçambique e não me lembro de um dia menos bom. Aos meus pais, irmão, outros familiares, amigos e, principalmente, ao Povo moçambicano, aqui deixo o meu muito obrigado. Manuel Palhares

Archives
A minha foto
Nome:
Localização: Odivelas, Lisboa, Portugal

segunda-feira, março 27, 2006

Poeta e poema da semana - Bocage



Um ladrão, armado com uma pistola, abordou Bocage nas proximidades do Café Nicola e perguntou ao poeta:

- Quem és tu, donde vens e para onde vais?

Ao que Bocage respondeu:

- Eu sou o poeta Bocage
E venho do Café Nicola
E vou para o outro mundo
Se disparas a pistola.


**********************************************


Sempre tão conotado com anedotas e poesia erótica, Bocage passou um pouco ao lado das selectas e dos compêndios da minha geração, como um grande poeta que foi, exímio no soneto.
Agora, após o 2º centenário da sua morte(2005), parece que todos se preocupam em falar nele e publicá-lo. M.P.


**********************************************


Um pouco da sua biografia

Manuel Maria de Barbosa l´Hedois Du Bocage (Setúbal, 1765Lisboa, 1805), poeta português e, possivelmente, o maior representante do arcadismo lusitano. Embora ícone deste movimento literário, é uma figura inserida num período de transição do estilo clássico para o estilo romântico que terá forte presença na literatura portuguesa do século XIX.
Nascido em
Setúbal a 15 de Setembro de 1765, falecido em Lisboa a 21 de Dezembro de 1805. Era filho do bacharel José Luís Soares de Barbosa, que foi juiz de fora, ouvidor, e depois advogado, e de D. Mariana Joaquina Xavier l’Hedois Lustoff du Bocage, cujo pai era francês.
Sua mãe era segunda sobrinha da célebre poetisa francesa, madame Marie Anne Le Page du Bocage, tradutora do Paraíso de Milton, imitadora da Morte de Abel, de Gessner, e autora da tragédia As Amazonas e do poema épico em dez cantos A Columbiada, que lhe mereceu a coroa de louros de Voltaire e o primeiro prémio da academia de Rouen.
Apesar das inúmeras biografias publicadas após a sua morte, uma boa parte da sua vida permanece um mistério. Não sabemos que estudos fez, embora se deduza da sua obra que estudou os clássicos e as mitologias grega e latina, que estudou francês e também latim. A identificação das mulheres que amou é muito duvidosa e discutível. (...) Wikipédia



Aqui fica um soneto de Manuel Maria Barbosa du Bocage.


A frouxidão no amor é uma ofensa

A frouxidão no amor é uma ofensa,
Ofensa que se eleva a grau supremo;
Paixão requer paixão, fervor e extremo;
Com extremo e fervor se recompensa.

Vê qual sou, vê qual és, vê que diferença!
Eu descoro, eu praguejo, eu ardo, eu gemo;
Eu choro, eu desespero, eu clamo, eu tremo;
Em sombras a razão se me condensa.

Tu só tens gratidão, só tens brandura,
E antes que um coração pouco amoroso
Quisera ver-te uma alma ingrata e dura.

Talvez me enfadaria aspecto iroso,
Mas de teu peito a lânguida ternura
Tem-me cativo e não me faz ditoso.



Bocage

Odivelas, 27 de Março de 2006.

O passado...


O passado, embora sendo meu,
Já não tem mais retorno, morreu.
Dele apenas ficaram as memórias,
Com que vos conto minhas histórias.

Por vezes, vivo mais recordando,
Esse saudoso passado que já passou,
Que dou por mim ausente, sonhando,
E até me parece que já aqui não estou.

Aí assusto-me por tanto sonhar,
Em tudo aquilo que já passou,
Porque assim deixo passar,
O futuro que por aqui passou.


Manuel Palhares

Odivelas, 27 de Março de 2006.

terça-feira, março 21, 2006

As entrelinhas - Ensaio sobre a loucura nº1


Meus caros amigos, amigos meus,

Nunca acreditem no que nas linhas eu vos escrevo. Desconfiem sempre porque é tudo falso, nada é verdadeiro.
Não sabiam? Pois eu também não.
O que na verdade vos quero dizer, não está nestas linhas que vos escrevo, mas sim no espaço em branco que entre elas fica, as entrelinhas.
Deste modo cada um de vós interpreta como quiser, a seu gosto, o que de facto eu vos queria dizer. E como desta maneira não vos posso escrever, aguardo que me digam o que aqui vos hei-de eu dizer.
Como entre as linhas do que escrevi no meu monitor só tenho um espaço em branco, contem-me o que foi que eu escrevi nesse espaço que aparece no vosso monitor, para também eu ficar a saber o que na realidade vos queria dizer.
Deste modo, a minha tarefa de escrevinhador, fica enriquecida, mais variada e a contento de cada um de vós. Deste modo consegui o consenso com cada um de vós em particular e com todos em geral.
Nem profetas nem políticos conseguiram alcansar este feito que eu acabo de conseguir e assim estabelecer o entendimento entre todos os homens e a paz na Terra.
Não me perguntem onde ficou a liberdade do pensamento livre e a dita cuja de expressão, porque isso não é para aqui chamado. Nem isso interessa nada, para este feito que eu acabo de inventar e vos relatar, aqui da enfermaria do manicómio, à socapa do enfermeiro, que já me ameaçou que se eu falar nela, na liberdade, me amordaça, veste-me o colete de forças e leva-me para aquele quarto todo almofadado, onde posso dar cabeçadas nas paredes e atirar-me para o chão a gritar que quero ser livre.
Aguardo ansiosamente que me digam o que leram nas vossas entrelinhas, para dar início às missivas que vou endereçar a cada um de vós.
Hoje mais alucinado que o costume porque, às vezes, ainda há quem me pergunte porque digo que sou livre até às últimas consequências e não aceito ordens de ninguém.
- Ó enfermeiro, deixe-me em paz. Ai! Ai! Socorro! Socorro! Ajudem-me! Ajudem-me! Deixem-me assinar a carta...hummmm! Hummmm!


Odivelas, 21 de Março de 2006.

Foi nesse momento que aconteceu poesia


Quando se juntam num só dia
O dia da Primavera e o da Poesia,
Reuniram no Olimpo os Deuses
Para ao mortal ser darem sinfonia.

Mas muito mais que as físicas verdades
Comprovadas por cósmicos matemáticos,
Tão áridas nos números dos seus cálculos
Que determinam as estações, a noite e o dia,

Ficam as incertezas, ficam as hesitacões,
Ficam os choros, ficam as inverdades,
Ficam as dores, os amores e as paixões,
Ficam os lamentos, ficam as saudades,

Ficam o ódio, o ciúme e o despeito,
Coisas que nos doem e nos magoam,
Que corroem a alma que temos no peito,
E que não se esquecem e não se perdoam.

Porém quando por um toque de magia,
A paz volta de novo e a alegria aparece
E vemos diferente o dia que amanhece,
Foi nesse momento que aconteceu poesia.

Manuel Palhares

Odivelas, 21 de Março de 2006.

segunda-feira, março 20, 2006

Poema da Semana


João Roiz de Castelo-Branco, de quem pouco se sabe, não precisou de deixar no Cancioneiro Geral (1516) mais do que esta cantiga, para se celebrizar na história da poesia portuguesa como um artista da forma e um verdadeiro poeta.

Branquinho da Fonseca


Cantiga, Partindo-se

Senhora, partem tam tristes
Meus olhos por vós, meu bem,
Que nunca tam tristes vistes
Outros nenhuns por ninguém.

Tam tristes, tam saudosos,
Tam doentes da partida,
Tam cansados, tam chorosos,
Da morte mais desejosos
Cem mil vezes que da vida.
Partem tam tristes os tristes,
Tam fora d'esperar bem,
Que nunca tam tristes vistes
Outros nenhuns por ninguém.


João Roiz de Castelo-Branco

sexta-feira, março 17, 2006

Carta ao meu Pai


Meu querido Papá,

Como sabes, é raro o dia em que não penso em ti. Mas falar contigo ou escrever-te, há trinta anos que o não faço, porque tu morreste, fez agora, no passado dia 15 de Fevereiro, trinta anos. Estavas sózinho, com um cágado por compnhia. Foi numa madrugada de domingo, em que te deitaste e te esqueceste de acordar. Na sexta anterior tinham-te ameaçado que te prendiam no Inhangau, se não pagasses os vencimentos aos operários das obras que tinhas paradas, porque os proprietários que as tinham mandado edificar, partiram de Moçambique e não se preocuparam em te pagar o que te deviam. Estavas a preparar-te para regressares ao teu Porto, de onde saíste jovem, e aonde só voltaste ao fim de vinte anos, em 1970, para uma estadia de quarenta e cinco dias. Partias, mais porque a família te pedia, do que por ser teu desejo sair da Beira e de Moçambique. "Tudo o que tenho, aqui o ganhei com o meu trabalho e daqui não saio!"- dizias um pouco irritado, quando te pedíamos que pensasses em regressar a Portugal, depois do 25 de abril de 1974. Bem, acabaste por vir num caixão, para o jazigo que te esperava num cemitério do Porto e lá estás.
Nunca, nestes trinta anos, consegui ter coragem para falar contigo, com a memória que tenho de ti, em pensamento. Foi dor que nunca passou e só tarde amenizou. Com os outros falava sobre ti, mas nunca me dirigi a ti. Recusei tanto a aceitar a tua morte que não andei bem por muito tempo, como sabes.
Hoje, já deves ter reparado, não só me dirijo a ti, como também te estou a tratar por tu, coisa que eu não fazia. Sabes, é que eu agora sou já sete anos mais velho que tu. Tu agora é que, de nós dois, és o mais novo!
Aqui na Terra inventaram, ao longo do ano, um dia mundial ou internacinal, para tudo. É mais uma maneira de alimentar o consumismo e criar afectos artificiais. E decidiram que no dia 19 de Março, no próximo domingo, se comemorava o Dia do Pai. Coitados dos pais de agora. Dantes os filhos provavam-lhes que todos os dias eram "dias dos pais", ao solicitarem-nos a todo o momento, com muito amor, carinho e alegria. Não recebias, neste dia, uma bugiganga qualquer, acompanhada por um postal com frases mais ou menos estereotipadas, a dizer que eras o melhor pai do mundo, que gostávamos muito de ti, e por aí... Mas recebias todos os dias a prova do nosso amor, quando não deixávamos de te beijar com afecto e alegria, pelo menos de manhã, de tarde e antes de deitar. E se ainda não te tinhas levantado, ou se já estavas deitado, íamos ao teu quarto, beijar-te a ti e à mamã. Para além disso, havia o desejo de te perguntar tudo, para com fascínio, ouvir as tuas respostas, que davas sempre com uma paciência infinita. E sei que, eu, por vezes, era muito chato! Mas tu eras sempre meigo e paciente.
Olha, aliviou-me o peito voltar a falar contigo, ao fim destes trinta anos. Espero que me tenhas ouvido com a paciência a que me habituaste, pois o que mais falta me tem feito, é exactamente não poder fazer-te perguntas. E tive necessidade de te ter feito tantas!
Um grande abraço e um grande beijo, do filho sexagenário, para o pai que foi sempre o seu herói preferido, e que partiu aos cinquenta e quatro anos de idade.


Manuel Alberto

Odivelas, 17 de Março de 2006.

terça-feira, março 14, 2006

Sabes?!


Sabes?!
Se me sinto deprimido,
Ou apenas triste,
É em ti que penso.

Não que recordar-te
Me cause tristeza,
Antes pelo contrário.

Alivia-me a alma
Pensar em ti,
Lembrar-me
Da tua beleza.

E quando,
Com sofreguidão
A ti me agarro,

Apesar de breves
Serem tais momentos,

Depressa
Se vão embora,
Todos os lamentos,
Todos os sofrimentos.


Manuel Palhares

Odivelas, 14 de Março de 2006.

sábado, março 11, 2006

Do Capri ao Largo Dr. Araújo Lacerda


Saí do Capri pela porta que dá para o Largo do Município e para a Riviera.
Ao chegar ao passeio, viro à direita e passo junto à ouriversaria onde comprei as minhas alianças de casamento.
Foram os meus queridos tios Lurdes e Fernando, meus padrinhos de baptismo, que também convidei para meus padrinhos de casamento, que me deram o dinheiro para as comprar. Eles, para além de tios, eram os padrinhos de baptismo de quase todos os sobrinhos. No meu caso e no do meu irmão, também foram os padrinhos de casamento. E, já agora, também foram os padrinhos de baptismo da minha filha. Eles, os tios-padrinhos, ainda comemoraram os cinquenta anos de casados - as bodas de ouro - com numerosa família à sua volta a mimá-los.
Mas dizia eu, passo junto à ouriversaria e em seguida à casa de produtos para animais que está ao lado, ambas no prédio do Capri. Dirijo-me para o parque de estacionamento que se encontra em frente ao Coverno Civil, onde tenho o carro. Até lá, no prédio ao lado do Capri, que fica em frente à montra lateral do Lar Moderno, ainda passo pelo pequeno snack, pela barbearia - onde aceno ao meu amigo barbeiro que é surdo-mudo e que conheço desde a infância- e preparo-me para virar a esquina do Comitis das bicicletas, sem antes não deixar de parar, por uns momentos, para ver aquela montra que sempre me fascinou desde menino: bicicletas de várias cores, motorizadas, patins, canas de pesca, espingardas, pistolas e respectivos acessórios. Em miúdo, enquanto os meus pais iam tomar café, primeiro à Riviera e mais tarde ao Capri, eu pedia-lhes para me deixarem ficar ali a ver as montras do Comitis e imaginava aventuras sem fim. Finalmente chego à esquina do Comitis e hesito em atravessar a Rua Governador Augusto Castilho para o lado de lá. Parado na esquina, olho para a esquerda. Ali estão, do lado de cá da rua, as traseiras do edifício da Companhia de Moçambique, com o Lar Moderno a ocupar-lhe também metade das montras traseiras - a outra metade era ocupada por uma casa de tecidos e bordados. Depois, as traseiras das Finanças e até à esquina com a Rua do Aruângua, os prédios da Búzi Comercial. Do lado oposto da rua, ainda para a minha esquerda, avisto o recente Monumento aos Pioneiros que ali edificaram o Posto de Aruângua. Em seguida, um edíficio de escritórios, com a Foto Sousa ocupando o seu rés-do-chão. À porta está a linda filha do sr. Sousa, a quem aceno com a mão para lhe roubar um sorriso. Ao lado, o prédio da Casa Carvalho, famosa pelos seus artigos para caça, pesca e outros desportos, com a Pensão Machado, dos pais do meu amigo Zé Mário, instalada no 1º andar. De seguida encontram-se os anexos do Lar Moderno e finalmente, em frente a mim, do outro lado da rua, a Farmácia "?" (há-de haver algum amigo que se vai lembrar do nome). Ao lado da farmácia, a Ouriversaria Comitis, já dando para o parque de estacionamento. Em seguida a Agência de Viagens da Sra.D. Armanda, irmã mais velha do meu amigo Manuel Nunes e mãe do Luís Portugal, infelizmente ambos já desaparecidos. Finalmente, já na parte do prédio que quase encostava à muralha que existia ao fundo do parque de estacionamento, uma casa de cobres e artesanato rodesianos.
E eu aqui, na esquina, sem saber o que fazer. Atravesso ou não atravesso. O dia está quente, o Sol já vai alto e o carro deve estar a ferver. Resolvo não atravessar e aproveito a sombra das arcadas do Governo Civil. Por ali é mais fresco e resolvo ir a pé. Olho para o fundo do parque de estacionamento, para o Posto de Gasolina Shell Rainha Santa, que é dos meus pais, tentando ver se vislumbro a minha mãe que trabalha no escritório do referido posto. A meio das arcadas do Governo Civil deparo com o Sr. Álvaro, motorista do Governador Civil, a quem cumprimento e pergunto pela luz dos seus olhos, uma pequenita que por vezes ele levava para ali e que hoje é a minha amiga Maria da Conceição Alves. Continuo, passo pelo Edifício Tâmega e mesmo ao lado, está o Prédio Vumba, onde moram os meus pais. No 1º andar, o Cartório Notarial da Beira, onde a figura do Sr. Dr. Palhinha não pode deixar de se fazer notar, porque é uma figura de peso, no sentido mais lato da palavra. Na loja deste imóvel encontram-se as instalações dos Transportes Aéreos Portugueses, vulgo TAP. Encosto o nariz à montra e vejo a minha querida amiga e ex-colega Júlia, com quem fui finalista no Liceu Pêro de Anaia em 1964 e que é ali funcionária. Ela vê-me; deito-lhe a língua de fora e ela bate com o indicador na fonte duas ou três vezes e ri-se. Continuo e, no prédio ao lado do Vumba, estão as insatalações da Casa Magalhães, cujo negócio é sobre vidros e afins. Esta empresa é dos familiares dos irmãos Magalhães que tinham sido nossos colegas no Liceu. Em frente, umas antigas casas coloniais que se estendem em profundidade até à muralha e que à face da rua terminam na construção colonial mais típica da Beira: uma casa toda em ferro e zinco, à entrada do Largo Dr. Araújo Lacerda, com o edifício das Obras Públicas em frente, fazendo gaveto para o referido largo.
Quantos de vós, meus caros amigos, não fizeram o exame oral /teórico de condução, aqui, neste edifício?
Desculpem se vos macei com mais esta voltinha, mas a intenção é só recordar e matar saudades.


Manuel Palhares

Odivelas, 11 de Março de 2006.

quarta-feira, março 08, 2006

DIA MUNDIAL DA MULHER


DIA 8 DE MARÇO - DIA MUNDIAL DA MULHER

Viva a Mulher!

A avó, a mãe, a tia, a irmã, a prima, a amiga, a namorada, a amante, a esposa, a anónima.
Todas elas são os pilares fundamentais da humanidade. Todas elas, em cada uma das diferentes situações, amaram alguém com desprendimento.
A todas elas que se fudem numa só - a Mulher - o meu muito obrigado.
Um beijinho,

Manuel Palhares


* Imagem: Desconheço o autor , mas penso que foi o Jorge Cortez quem a postou na Comunidade da Beira.

domingo, março 05, 2006

Um Lugar Especial - A mesa do meu amigo


Na Beira havia muitos lugares especiais.
Mas o que mais importa, era para quem esses lugares eram especiais.
Por exemplo, este de que hoje vos vou falar, era especial para muitos de nós, principalmente para um amigo de infância, que ali se sentava todos os dias.
Dali dominava-se, com a visão, um dos centros mais estratégicos da cidade da Beira - a Praça do Município. Quem ali estivesse sentado, bem encostado à parede do fundo, dominava, num relance, todo esse lugar. Senão vejamos.
Daquela primeira mesa, junto à montra, do lado esquerdo da mesma, ficava-se com os Correios à nossa esquerda e via-se quem neles entrava e deles saía. Ao sairem dos Correios, as pessoas, ou viravam à direita e passavam pela Farmácia Graça, pela loja de uma velha imigrante e simpática senhora, conhecida por Loja da Frida, pela antiga Casa Caravela, mais tarde casa de artigos ópticos e chegavam ao Café Scala, ou virando à esquerda percorriam alguns passos junto à parede dos Correios e alcançavam o Largo do Município.
Quem ao sair dos Corrreios, optasse por atravessar a rua, tinha em frente o prédio da Pensão Castanheira, que ocupava o primeiro andar, e em cujo rés-do-chão se encontravam o City Stores de um lado e a Casa Ramechande do outro. Ao meio, as escadas de acesso à referida pensão, com a Tabacaria Porto ocupando o vão dessas escadas. Quem optasse portanto por atravessar a rua, ou entrava num destes estabelecimentos comerciais, ou tomava uma de duas opções possiveis: para a direita ia-se em direcção do Prédio Tâmega, que tinha o Montepio no rés-do-chão e para a esquerda passava-se juntinho à mesa, encostada à montra e chegava-se também ao Largo do Município, mas do lado oposto do passeio dos Correios.
Quem estivesse ali sentado, na mesa do fundo, junto àquela montra, tudo isto via e ainda muito mais. Reparem. Olhando para a esquerda viam quem vinha pelo passeio dos Correios e o contornava e que podia ir, ou em direcção ao Prédio F.L.Simões, com a Emissora do Aeroclube da Beira e o Despachante Almeida no primeiro andar e o Banco Pinto & Sotto Mayor por baixo, ou em direcção ao prédio da Associação Comercial e Industrial da Beira, com a Livraria Salema no piso térreo, ou ainda dirigir-se para o prédio Aruângua, com O Novo Lar ocupando a loja do rés-do-chão. Quando este prédio se inaugurou, quem primeiramente ocupou o rés-do-chão e a cave, foi um café que tinha bilhares na cave e onde pelo menos metade dos da minha geração aprenderam a jogar bilhar. Mas isto tudo que vos relato era apenas o que podia observar quem estivesse sentado naquela mesa e olhasse para o seu lado esquerdo.
Quem olhasse em frente, além de atravessar com a vista o Largo do Município em toda a sua extensão, via ao fundo, em frente à fachada lateral do atrás referido prédio Aruângua, o Mercado Municipal e o princípio da rua onde a maior parte do comércio era de beirenses de origem indiana. Mais para a direita, no topo do largo, via-se um dos edíficios coloniais mais característicos da Beira. Todo ele com varandas e pilares em ferro e onde primeiro funcionou um hotel, no primeiro andar, e mais tarde passou a ser a Messe da Polícia de Segurança Pública, cujas instações aliás se situavam em frente à parte desse prédio que dava para a Avenida da República. Do outro lado da rua, na esquina, em frente a esse prédio e ao lado das instalações da P.S.P. , via-se o lindo edifício da Câmara Municipal da Beira, que ficava de gaveto, com uma parte para a Avenida da República e outra parte para a Rua do Aruângua, onde logo a seguir à Câmara se situava a Esquadra da P.S.P..
Começamos olhando para a esquerda, depois em frente e agora, atravessando da Câmara para a nossa direita, fechando o quase âgulo de giro que representa tudo o que se via daquela mesa e já deixando a visão percorrer os edifícios que unem o fundo do largo, ao nosso local de observação, vemos um edifício com uma Casa de Ferragens no rés-do-chão, de que não me recordo agora o nome, mas penso que quando publicar este texto no Grupo da Comunidade da Beira, algum dos amigos se deverá lembrar. Ao lado desse prédio, ficavam, primeiro as instalações da Companhia Colonial de Navegação e ao lado destas, as intalações da Repartição de Finanças. Finalmente e fechando o círculo, o edifício da Companhia de Moçambique, com a Pastelaria Riviera do lado direito e o Lar Moderno do lado esquerdo. Atravessando a rua, os meus amigos dirigem-se agora para o prédio onde se situam as instalações onde se encontra o meu amigo, que dali tudo domina apenas com a visão, quase sem precisar de mexer a cabeça. Entram pela porta oposta ao sítio onde ele se encontra. Ele está lá ao fundo, no canto oposto, de costas para a parede que confina com o City Stores, na mesa do fundo, junto à montra que dá para os Correios. Ele, o meu amigo, é o Manuel Costa, o Costinha, que tem ali, no Café Capri, montado o seu posto de observação e daquele sítio nada lhe escapa, principalmente as lindas turistas rodesianas e sul-africanas que visitam a nossa cidade.

Manuel Palhares

Odivelas, 5 de Março de 2006.


* Imagens retiradas da Comunidade da Beira.

Poetisa da Semana: Cecília Meireles


Motivo


Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.

Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.

Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
- não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.

Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
- mais nada.



Cecília Meireles

Poetisa da Semana: Cecília Meireles - Biografia e Obra


Meus caros amigos,

Depois de António Gedeão e de José Craveirinha, escolhemos para Poetisa da Semana, a grande poetisa Cecília Meireles.
Para o efeito pedimos a colaboração a uma sua familiar, a nossa amiga Mayra Meireles, que nos enviou este excelente resultado da pesquisa que efectuou.
Aqui fica, com os nossos agradecimentos, a colaboração de Mayra Meireles.
Com amizade,

Manuel Palhares

Odivelas, 5 de Março de 2006.


CECÍLIA MEIRELES

Poetisa: 1901 – 1964


Cecília Meireles nasceu no dia 7 de Novembro de 1901. Seu pai, Carlos Alberto de Carvalho Meireles, morreu três meses antes do seu nascimento e sua mãe, Matilde Benevides, faleceu quando a Cecília tinha apenas 3 anos de idade.

Foram seus avós paternos, João Correia Meireles, português, funcionário da Alfândega do Rio de Janeiro e D. Amélia Meireles.

A avó materna, D.Jacinta Garcia Benevides, açoriana, cuidou da menina, como sua tutora.

Em 1910, ela terminou o Curso Primário, na Escola Estácio de Sá, recebendo uma medalha de ouro das mãos de Olavo Bilac - Poeta e Inspetor Escolar do Distrito Federal.

Estudou história, línguas, filosofia e estudos orientais, daí nascendo o entusiasmo pelo Oriente.

Em 1917, diplomou-se na Escola Normal (Instituto de Educação), seguindo então a carreira do Magistério.

Continuou os estudos no Conservatório Nacional de Música.

Em 1919, escreveu o primeiro livro de versos, "Espectros", recebendo inúmeros elogios da crítica.

Em 1922, casou com Fernando Correia Dias, artista plástico português. Nascem três filhas: Maria Elvira, Maria Matilde e Maria Fernanda (sendo esta uma famosa atriz do teatro brasileiro).

Em 1924, escreve "Criança meu amor", que foi adotado pelas escolas municipais.

Em 1929, editou a conferência "O espírito vitorioso", que foi apresentada no Concurso de Literatura Brasileira, no Instituto de Educação.

De 1930 a 1934, dirigiu uma página de publicação diária, no jornal Diário de Notícias, sobre Educação, fazendo severas críticas ao Governo de Getúlio Vargas, defendendo uma nova escola.

Em 1934, passou a dirigir o Instituto Infantil, no Pavilhão Mourisco, criando então uma Biblioteca Infantil.

Fez a primeira viagem a Portugal, a convite da Secretaria de Propaganda desse país, acompanhada do marido, exercendo intensa atividade cultural em Lisboa e Coimbra.
Em 1935, leccionou Literatura Brasileira na recém fundada Universidade do Distrito Federal (hoje Universidade Federal do Rio de Janeiro). Perdeu o marido, Fernando Correia Dias, por suicídio.

De 1936 a 1938, enfrentou sérias dificuldades económicas. Trabalhou ministrando cursos de Técnica e Crítica Literária, sobre Literatura Comparada e Literatura Oriental. Escreve regularmente em vários jornais: A Manhã, Correio Paulistano e A Nação. Trabalha no departamento de Imprensa e Propaganda, como responsável pela revista Travel in Brazil.

Em 1938, recebeu o Prémio Poesia, da Academia Brasileira de Letras, com o seu livro "Viagem", conheceu Heitor Grilo, médico, com quem se casou no ano seguinte. Viaja aos Estados Unidos e México, ministrando cursos de Literatura Brasileira na Universidade do Texas.

Em 1939, "Viagem" é editado em Lisboa.

Em 1940, leccionou Literatura e Cultura Brasileira na Universidade do Texas. Fez conferências sobre literatura, folclore e educação, no México.


Entre 1942 e 1944, publicou "Vaga Música" e escreveu importantes estudos sobre folclore infantil, no Jornal A Manhã.

Em 1944, visitou o Uruguai e a Argentina.

Em 1945, publicou "Mar Absoluto".

Em 1948, é tratada como autoridade no assunto e foi criada a Comissão Nacional de Folclore.

Em 1949, "Retrato Natural", mais um livro, é lançado.

Em 1951, secretaria o Primeiro Congresso Nacional de Folclore (Rio Grande do Sul). Faz viagens à Europa: Bélgica, Holanda , Portugal e França. Publica "Amor em Leonoreta". Recebe o título de Oficial da Ordem do Mérito, do Chile. Recebe o título de Sócia Honorária do Gabinete Português de Leitura Vasco da Gama. Na Índia lançou "Noturnos de Holanda & O Aeronauta".

Em 1953, publica "O Romanceiro da Inconfidência", a sua obra prima.

A convite do primeiro ministro Nehru, participa do Simpósio sobre a obra de Gandhi, na Índia. Recebe título Doutor Honoris Causa pela Universidade de Deli.
Compõe Poemas escritos na Índia.
Na sua passagem pela Itália, nascem os Poemas Italianos.
Índia, Goa e Europa... Pequeno Oratório de Santa Clara.

Em 1954, novas viagens: Europa e, agora, Açores.

Em 1956, publica "Canções".

Em 1957, viaja a Porto Rico.

Em 1958, faz uma conferência em Israel. Visita aos lugares santos.
Publicação da Obra Completa pela editora José Aguilar.

Em 1960, publica "Metal Rosicler".

Em 1963, é publicado o último livro em vida, "Solombra".

Em 1964, dia 9 de Novembro, morre Cecília Meireles. Foi sepultada no Cemitério São João Batista (Rio de Janeiro).

Em 1965, a Academia Brasileira de Letras confere-lhe o Prémio Machado de Assis, post mortem, pelo conjunto de sua obra.

No centenário do seu nascimento, a Editora Nova Fronteira, do Rio de Janeiro, publica "Poesia Completa", em dois volumes. Edição organizada por Antonio Carlos Secchin.


Seus livros

Espectros, 1919

Nunca mais... E Poema dos Poemas, 1923
Baladas para El-Rei, 1925
Criança, meu amor, 1927
Viagem, 1939
Vaga música, 1942
Mar Absoluto e Outros Poemas, 1945
Retrato natural, 1949
Amor em Leonoreta, 1951
Dez noturnos de Holanda & O aeronauta, 1952
Romanceiro da Inconfidência, 1953
Pequeno Oratório de Santa Clara, 1955
Pistóia, Cemitério Militar Brasileiro, 1955
Canções, 1956
Romance de Santa Cecília, 1957
Obra poética, 1958
Metal Rosicler, 1960
Poemas escritos na Índia, 1961
Solombra, 1963
Ou isto ou aquilo, 1964
Crônica trovada da cidade de Sam Sebastiam, 1965
Poemas italianos, 1968
Ou isto ou aquilo & Inéditos, 1969
Cânticos, 1981
Oratório de Santa Maria Egipcíaca, 1986
Poesia Completa, 2001

sexta-feira, março 03, 2006

O Poeta da Semana : José Craveirinha


Meus caros amigos,

Sendo esta a semana dedicada ao poeta José Craveirinha, não podia arranjar melhor homenagem que a Efeméride que lhe é prestada por João Craveirinha e que o Zambézia Online publica.
Com a devida vénia ao autor e ao jornal, aqui vos deixo o link.


http://www.zambezia.co.mz/content/view/1787/1/



Com amizade,

Manuel Palhares

Odivelas, 3 de Março de 2006.

quarta-feira, março 01, 2006

Artigos do blog organizados por ordem alfabética


Meus caros amigos,

O blog "Beira, Meu Amor" sofreu a sua primeira reorganização.
Quando da sua montagem pensei que devia colocar os diferentes itens pela relevância que poderiam ter para os seus leitores e não por ordem alfabética. Todavia, tenho verificado pelos e-mails que alguns amigos têm feito o favor de me dirigir, que ser-lhes-ia mais agradável a procura dos diferentes artigos, se estes estivessem por ordem alfabética. Nesse sentido, e dando satisfação àquilo que me é pedido, a partir de hoje encontram os diferentes assuntos organizados por ordem alfabética.
Com amizade,

Manuel Palhares

Odivelas, 1 de Março de 2006.

escrevam como vos apetecer


o monitor vazio em branco olha para mim à espera que eu converse com ele e eu a olhar para ele sem saber o que lhe dizer então ele pergunta-me porque estou tão bem disposto e eu digo-lhe que estou assim porque acordei para mais um dia bem disposto e sem dores ele olha para mim admirado como se isso fosse motivo para satisfação e diz olha queres deitar conversa fora? pois então começo por te dizer que acabou o carnaval e a partir de hoje já toda a gente leva a mal portanto põe-te a pau com a má disposição e a falta de sentido de humor dos portugueses e não te admires que com a tua habitual boa disposição e negligência nas maneiras ainda te dêem com uma cachaporra na cabeça e depois não te queixes tens a mania de andar sempre a cantarolar com um brilho nos olhos e um sorriso meio gozão nos lábios ainda não aprendeste a andar com ar de mal disposto e mau ao fim de quase 32 anos e depois não te lamentes então não sabes que em portugal deves fazer como os portugueses? e que modos são esses de escreveres assim em cima de mim? isso são lá maneiras de se escrever isso é lá português? ah aí é que te enganas digo-lhe eu isto é português do mais puro e moderno que há então não sabes que foi a escrever assim que um português ganhou o nobel prémio e outro que escreve do mesmo modo que ele disse logo que o prémio estava mal atribuído porque ele é que o devia ter ganho pois foi o primeiro a inventar esta moderníssima e maravilhosa maneira de lobo predador de mandar para baixo de braga a língua desses gajos como o camões, o alexandre, o camilo, o eça, o pessoa e outros gajos que não percebiam nada disto e que escreviam como eles e tinham a mania que sabiam dizer umas coisas para virgens sonhadoras ou matronas palpitantes


manuel palhares
odivelas 1 do março do zero 6

/body>